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segunda-feira, 27 de julho de 2015

Inusitado: conheça “Wines of Gala” e “Les Dîners de Gala”, os livros malditos sobre vinho e culinária do excêntrico e genial Salvador Dali

 
Por Rogerio Ruschel (*)
Prezado leitor ou leitora, hoje vamos navegar na excentricidade de Salvador Dali, um dos maiores artistas do século XX, e conhecer dois livros raros e "amaldiçoados" deste gênio surrealista: um de culinária e outro sobre vinhos.

Para começar, o nome dele era Salvador Domingo Felipe Jacinto Dali i Domènech, e o ele era o 1º Marquês de Dalí de Púbol. Nascido e falecido em Figueres, Catalunha, na Espanha (1904 e 1989, respectivamente), Salvador Dalí ficou conhecido por combinar em seus quadros imagens bizarras, oníricas e incríveis, mas com excelente qualidade plástica e também por seu comportamento pessoal sempre teatral e excêntrico, dado a atitudes extravagantes destinadas a chamar a atenção. Acima ilustração sobre “Les Cannibalismes de L’Automne” e abaixo “Nocturnal Cravings”, que ilustram o livro de culinária.

Dali era mesmo um doido: aos 30 anos foi preso por pedofília de incapazes, apoiou o regime autoritário  de Francisco Franco na Espanha e fez parte do Partido dos Nazistas durante a Segunda Guerra mundial. Mas era mesmo um gênio e produziu mais de 1500 quadros ao longo da sua carreira, além de ilustrações para livros, litografias, cenários e trajes de teatro, dezenas de esculturas e vários outros projetos. Pois vou falar de apenas dois deles: um livro de culinária e um livro sobre vinhos. Abaixo, detalhe da contra-capa do livro "The Wines of Gala".

O livro “Les Dîners de Gala” é um livro com 150 receitas estapafúrdias (mas segundo dizem, algumas deliciosas…) que Dali fez em homnagem a sua esposa Gala - sua esposa 10 anosmais velha, uma russa muito forte - e também, segundo dizem, porque seriam receitas para jantares de gala. É claro que em se tratando de Dali não seria uma coisas simples, com um nome simples…

Foi lançado em 1973 pela editora francesa Felicie e segundo um crítico especializado, se trata de “um livro com flair visual, piscando um sentido de humor, um desrespeito às normas aceitas e um sentimento acrescido para o absurdo.” Embora digam que apenas 400 cópias do livro foram impressas, dá para encontrar exemplares na eBay ou na Amazon.com por preços que começam em US$ 500,00. Na foto abaixo, Dali pesquisa receitas...

E para você ter uma ideia mesmo sem ter o livro, veja só os capítulos, com livre tradução para o português:
1. Caprichos principescos pinçados (pratos exóticos)
2. Canibalismos (ovos – frutos do mar)
3. O desconforto Lilliputiano supremo (Entradas)
4. As entre-refeições sodomizadas (Carnes) – veja abaixo a ilustração correspondente
5. Sputnik polido com larvas estatísticas (Caracóis - rãs)
6. Penas variegadas (Peixes e conchas)
7. Cadeiras monárquicas (carnes de caça - aves)
8. Relógios de dormir ½ macios (carne de porco)
9. Atavismo desoxirribonucleico (vegetais)
10. Eu como GALA (afrodisíacos)
11. Pios nonoches (doces - sobremesas)
12. Delicias de pequenos mártires (aperitivos)

O outro livro de Salvador Dali, “Wines of Gala”, foi publicado em 1977. Também  muito excêntrico e dedicado a Gala, o livro registra a obsessão de Dalí com a sexualidade e o desejo de comida e vinho, dois temas importantes que raramente apareceram em seu trabalho “convencional”- se é que Dali fez algum trabalho convencional. Mas, enquanto o livro de receitas foi bem recebido pela critica, “Wines of Gala” quase não foi percebido.

Ao contrário do livro de receitas, Dalí não escreveu nenhum texto para este projeto; o texto foi escrito por profissionais e a obra tinha um poema acróstico introdutório feito pelo Barão de Rothschild. A maioria das 140 ilustrações do artista é formada por esboços e detalhes de pinturas mais antigas; entre as peças originais feitas para o livro, a maioria foi produzida alterando ligeiramente o trabalho de outros artistas, adicionando toques surreais como mulheres nuas e até mesmo garrafas de vinho em forma de pênis. Nas fotos abaixo Dali prova um dos vinhos e mais abaixo, Dali pinta mulheres nuas para uma capa de revista.



Para você ter um gostinho do livro, veja isso. A primeira seção é dedicada à "Dez Vinhos Divinos Dali", uma visão geral de 10 regiões vitícolas importantes. Escrito por Max Gérard, amigo de longa data de Dalí, o texto é apenas enciclopédicamente morno – e a única coisa mais extravagante é que Dali incluiu a Califórnia entre as 10 regiões, por causa do "Julgamento de Paris” que havia acontecido um ano antes. Mas é  a segunda seção, "Dez Vinhos de Gala", que atinge um grau comparável com obras-primas de Dali como "A Persistência da Memória". Escrito por Louis Orizet viticultur e político em Beaujolais, com a ajuda de Georges Duboeuf (o inventor da campanha de marketing para Beaujolais Nouveau), o texto detona a crítica de vinhos ao propor avaliar os vinhos "de acordo com as sensações que eles criam em nossas profundezas" e não por sua geografia, terroir ou variedade da uva. O texto divide os vinhos como "Wines of Light", "Wines of Purple "e" Vinhos de generosidade ", usando métricas como método de produção, peso e cor para encontrar parentescos emocionais, resultando em agrupamentos excêntricos e inusitados.

Com um pouco de sorte o livro “Wines of Gala” também pode ser encontrado na internet. Se você conseguir um exemplar, escreva para este pobre editor, para que possamos compartilhar sua percepção com nossos leitores. Porque como a sabedoria popular costuma nos dizer, de gênio e de louco todo mundo tem um pouco. Tim-Tim!
(*) Rogerio Ruschel é editor de In Vino Vioajas baseado em São Paulo, Brasil, e considera excentrico não ser feliz

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