Para aproveitar milhagens
que estavam por vencer e o convite de um casal de amigos, fui conhecer de perto
os sabores de uma região francesa muito badalada: a Borgonha e sua capital
Dijon, território dos poderosos Duques da Borgonha, no Departamento Côte-d’Or,
localizada a 310 quilometros de Paris e cerca de 200 quilometros de Lyon.
Os primeiros habitantes
datam da época do Neolítico e, cortada pelo canal da Borgonha e pelos rios
Ouche e Suzon que contribuiram para o transporte e a geopolítica, Dijon
atravessou os séculos testemunhando lutas pelo poder, invasões, incêndios (como
o de 1.137, que destruiu grande parte da cidade) e mais recentemente, foi palco
de cenas destrutivas da Segunda Grande Guerra.
Embora pequena, Dijon é
uma cidade culturalmente importante, e seus cerca de 260.000 habitantes recebem
bem os turistas atraídos por construções históricas do período medieval, pela
gastronomia, pela mostarda – e evidentemente pelos vinhos borgonheses.
Alegre, florida e
simpática, Dijon é facil de conhecer: basta caminhar pelas ruas animadas como a
central Liberté e as ruas des Forges, de la Chouette e Verrerie (com muitos antiquários), que levam a
visitas a igrejas como a Notre-Dame, a St. Michel – que virou foco de
eventos universitários - a St.
Jean e a Catedral Saint-Bénigne com sua cripta do século XI.
As surpresas também estão em prédios e palácios como o majestoso
Palais des Ducs et des Etats de Bourgogne com sua grande praça com chafarizes
no solo, agitada no verão por shows e eventos; o antigo palácio de justiça; o
prédio dos Correios (Poste Grangier); o Hôtel de Vogüe e o Hôtel de Ville.
Embora seja tudo pertinho, valem paradas estratégicas de descanso para
os pés em áreas verdes como a Place Darcy e o Parque e Museu de Ciências bem
defronte à Gare Dijon Ville; em cafés e restaurantes com mesinhas nas calçadas
(pelo menos em tempos menos frios) e nas lojas de produtos tradicionais para
ver as muitas versões da mostarda - Dijon é
considerada a capital mundial da mostarda, embora grande parte do produto seja
importado, mas a região tem tradição na produção e na especialização: contei
pelo menos 20 diferentes tipos de mostardas, algumas com ingredientes doces…
Come-se muito bem em
Dijon, que é considerada uma das capitais gastronômicas da Europa. Além da
mostarda e das tradicionais especialidades francesas (pães e queijos de
infindáveis sabores), Dijon é conhecida também pelo creme de groselha preta e do pain
d’épice. E bebe-se bem, também, evidentemente, porque afinal de contas Dijon é
a porta de entrada de uma das mais importantes regiões produtores de vinhos da
França.
Embora os borgonhas não
sejam tão famosos ou até mesmo tão badalados como os vinhos de Bordeaux, do
Vale do Reno, da região de Champagne ou do Vale do Loire, oferecem boas
surpresas – e atraem muitos turistas, entre os quais eu e minha mulher.
Existem muitas maneiras de conhecer a região vinícola da Borgonha
e talvez a melhor seja passar alguns dias hospedado em alguma pensão ou hotel
de vila, numa abadia ou num dos muitos chateaux. Mas como não tinha todo este
tempo nem a grana necessária, me contentei em comprar um roteiro turístico mais
convencional. Por 60 Euros e na companhia de um guia muito esperto e 3
australianos, gastei minhas 7 horas de turismo passeando entre os vinhedos
plantados nas Colinas de Côte Chalonnaise e Mâconnais (dois distritos
produtores) e em áreas e lojas de pequenos produtores em vilas como
Gevrey-Chambertin, Nuits Saint-Georges, Vougeot e Givry, na região produtora
Côte de Nuits.
Evitei cidades maiores como Beaune, considerada a capital
comercial do vinho na Borgonha, onde, segundo meu guia, a única coisa
interessante para fazer seria visitar o Hôtel-Dieu, de 1443, com os Hospices de
Beaune e seus vinhedos de 58 hectares, e gastar dinheiro nas lojas. Ficou para
outra vez...
Como gosto de vinho mas não entendo quase nada, preferi fazer o
roteiro de visita tradicional da Côte de Nuits, o que incluiu a visita a alguns
vinhedos produtores de vinhos Grand Cru, na estrada entre Gevrey-Chambertin e
Morey-St.Denis.
A indústria vinífera foi introduzida na região no século XVII e a especialidade da Borgonha é a uva
Pinot Noir (cerca de 95% da produção), mas alguns produtores trabalham com a
uva branca Chardonnay. O solo é argiloso, as suaves colinas permitem boa
insolação e o clima continental é adequado para a formação de um bom terroir,
que é como os franceses chamam o conjunto de condições de plantio da uva.
Aprendi que a grande maioria da produção é feita por pequenos
produtores (especialmente familias), embora as áreas mais sofisticadas (como as
de vinhos premier e grand cru) quase sempre pertençam a alguma familia mais
poderosa. Descobri que “clos” – palavra que a gente vê em alguns rótulos –
significa que o vinho foi feito com uma uma uva plantada em uma área murada,
porque a grande maioria dos vinhedos é plantada em áreas abertas, sem separação
entre os proprietários. E qual a vantagem? A uva fica mais protegida e dá um
vinho melhor…
Também na linha da cultura inútil, aprendi que para poder ser
classificada como grand cru, um vinho tem que ter critérios de qualidade que
não vou nem tentar explicar porque os franceses não fazem muita questão que
você entenda, desde que pague o preço pedido. Mas pelo que vi, uma das
condições é que a uva seja mais beneficiada com açúcar, e para isso os
produtores têm que cortar todos os cachinhos tenros das videiras para que
cresçam apenas dois.
Tentei mas não consegui entender a sofisticada cultura local de
produção, classificação e consumo dos vinhos. Áreas de produção literalmente
uma ao lado da outra podem ter classsificações e denominações diferentes,
ligadas à região ou à própria comunidade. É provável que o objetivo não seja
este, mas na prática este sistema de certificação acaba se tornando um
instrumento de marketing, porque impede que um bebedor de vinho
não-especialista,m como eu, jamais consiga comparar dois vinhos produzidos
literalmente a cinco metros de distância…
Mas se o seu
objetivo é passar horas agradáveis em uma cidade muito interessante e fazer
turismo enogastronômico, Dijon e a região da Borgonha oferecem isto com muito
charme. E aproveite, porque um bom vinho pode custar entre 7 e 12 Euros (em
lojas) e um grand cru pode ser encontrado a partir de 55 Euros – preços no
mínimo 50% mais em conta do que os encontrados no Brasil.
Se você quiser saber mais sobre os sabores da Borgonha, acesse http://invinoviajas.blogspot.com.br/2013/05/feira-livre-de-dijon-produtos-naturais.html
Se você quiser saber mais sobre os sabores da Borgonha, acesse http://invinoviajas.blogspot.com.br/2013/05/feira-livre-de-dijon-produtos-naturais.html
(*) Rogério Ruschel - rogerio@ruscheleassociados.com.br - é turista inveterado, jornalista e
consultor especializado em sustentabilidade, editor da revista eletrônica
“Business do Bem – Economia, Negócios e Sustentabilidade” - http://www.ruscheleassociados.com.br/
.Ruschel viajou à Borgonha Alsácia por conta dele mesmo.
Olá Rogério, estou residindo a 3 meses em Genebra e apenas hoje encontrei seu blog. As dicas são muito boas! Obrigada por manter estes registros com dicas para pessoas leigas como eu! :)
ResponderExcluirOla Deziree, tudo bem?
ResponderExcluirGrato pela leitura.
Vejo que vc já encontrou os posts sobre os parques e museus de Genebra. Esta deve ser a primeira primavera de vocês em Genebra, então aproveitem.
Minha filha Renata mora em Genebra há quase 3 anos e vou visitá-la entre os dias 12 e 28 de abril; vamos até Paris e Bordeaux, mas grande parte do tempo ficarei em Genebra mesmo. Podemos nos encontrar aí, pode ser interessante conhecer mais pessoas, porque o inverno é muito chato.