Por Rogerio Ruschel (*)
Meu querido leitor ou leitora, vou começar esta lembranças com poesia: parafraseando o poema I-Juca Pirama, de Gonçalves Dias, digo que
“meninos, eu vi!”. Vi e me apaixonei por Reguengos de Monsaraz (a Cidade
Européia do Vinho 2015), Monsaraz e seu castelo (foto acima, de João Fructuosa), São Pedro do Corval, Mourão e
vizinhança no Alentejo, a região mais agrícola de Portugal, e também uma das
mais bonitas.
E olha que dizer isso sobre uma região de Portugal é
muito difícil porque, mesmo pequeno (é menor do que o Estado de Santa
Catarina, aqui no Brasil) Portugal atrai turistas do mundo inteiro por uma grande lista de
razões. Algumas destas razões sobre o Alentejo você vai ver a seguir, as mesmas que fizeram com que o jornal
norte-americano USA Today a considerasse a melhor região vinícola do mundo para
visitar, em 2014. E quem vai discordar deste que é um dos maiores jornais do mundo? Na foto abaixo, de João
Fructuosa, as videiras se fundem
com o céu e o lago Alqueva, na poética e premiada Algarve que conheci.
Lembrei do poeta romântico Gonçalves Dias
porque se “nossa terra tem palmeiras” como ele escreveu, o Alentejo tem campos,
muitos campos e que produzem o que precisamos para uma vida de enófilo: campos
com vinhedos (a árvore que produz vinhos), com sobreiros (a árvore que produz
rolhas de cortiça), com olivais (a árvore que produz o azeite de oliva), campos com
cabras, vacas e ovelhas que produzem carne, leite e queijos e os famosos porcos
alentejanos, especializados em nos proporcionar deliciosos enchidos e
presuntos. Fiz uma degustação de azeites em uma típica casa alentejana na
Mercearia Ilegal (foto abaixo) e também visitei uma fazenda de cabras onde
fotografei o jovem da foto abaixo.
E para a sobremesa dos turistas enófilos, no
Alentejo as gentes locais produzem doces impressionantemente deliciosos, e mel
– um delicioso mel de abelhas alentejanas! O Alentejo é considerado o celeiro
de Portugal e vem arrancando elogios de publicações especializadas em turismo de
bom gusto de todo o mundo com sua beleza, simplicidade, conjunto de atrações -
e preço acessível, meu caro leitor, porque este é outro grande benefício de
viajar para Portugal. Na foto
abaixo, um bosque de sobreiros, um montado de sobreiros.
O que destacar numa região destas que tem
duas cidades tombadas como Patrimônio da Humanidade – Évora e Elvas – e o
famoso castelo de Monsaraz? Évora (foto abaixo) tem mais de 2.000 anos de
história, embora sua data de fundação seja “apenas” em 1.166; mas bem antes disso a cidade foi sede das tropas do general romano Sertório que junto com os lusitanos,
antigos moradores da região, teriam enfrentado o poder de Roma.
Já Elvas, que fica a apenas 8 quilometros da
Espanha, foi a mais importante defesa do território português e a cidade mais
fortificada da Europa durante muito tempo – e suas muralhas, junto com o
centro históirico da cidade, são agora Patrimônio da Humanidade. E para mim
Elvas tem outro charme especial: fica no municipio de Portalegre, que me lembra
de Porto Alegre, a capital do meu querido (e também rural e vinícola) estado do Rio Grande do
Sul. Sobre Monsaraz, me desculpe meu caro leitor ou leitora, mas como estive
lá, caminhei por lá, fotografei por lá, entrevistei por lá, almocei e jantei
por lá, quero apresentar em outra reportagem por aqui. Veja um pouquinho do
castelo nas fotos abaixo.
Outro patrimônio mundial desta região do
Algarve é um dos céus mais claros e limpos do mundo, razão pela qual oferece
aos visitantes a possibilidade de fazer uma viagem interestelar
na Rota Dark Sky Alqueva, o primeiro sitio
certificado de turismo astronômico do mundo (fotos abaixo). E se você quiser
conhecer nossas estrelas, astros e galáxias, saiba que pode ter ao seu lado
gente de todo o mundo: na semana em que estive lá, uma diretora da NASA
estivera no local fazendo palestra e pesquisando o universo. Não sei se ela
procurava alguém em específico em Marte (já que agora eles confirmam a "potencial existência de vida"), mas eu tenho quase certeza que vi meus amigos do Cinturão de Órion! Veja na foto abaixo o guia indicando o caminho para os turistas, e uma foto do astrofotógrafo Miguel Claro, um dos dirigentes da Rota Dark Sky Alqueva.
Como estamos em Portugal, certamente se come e
se bebe muito bem no Alentejo. Visitei três das nove vinícolas do município de
Reguengos de Monsaraz em companhia de seus enólogos: a Herdade do Esporão (com Rui Flores, na foto abaixo), a
Carmim (com Rui Veladas) e a Monte dos Perdigões (com Jorge Rosado). A Herdade
do Esporão – que também tem unidades no Douro, mas tem sede no Alentejo - é
conhecida dos brasileiros por seus azeites e pelos ótimos vinhos Monte Velho, Torre do
Esporão, Verdelho e Defesa.
Mas também é
muito conhecida (e respeitada) por suas práticas de sustentabilidade, que fiz
questão de conhecer e que quero apresentar em outra reportagem. A Carmim é a maior cooperativa vinícola
de Portugal, e aqui no Brasil pode-se encontrar seus azeites e também vinhos
como os Monsaraz Millenium, Premium e os monovarietais de Touriga Nacional
(muito bom!), Alicante Bouschet e Syrah. Meu passeio por lá e pela Monte dos
Perdigões também vai ser mostrado aqui.
O Alentejo
fica no centro-sul de Portugal (veja mapa acima), é a maior região do país e embora tenha muitos
campos, lá fica o maior lago artificial da Europa – o Alqueva – e dois
importantes parques - o Parque Natural da Serra de São Mamede e Parque
Natural do Vale Guadiana. É uma
região estratégica porque lá se encontram as bacias hidrográficas dos
tres maiores rios do pais, Tejo, Sado e Guadiana que encontram o mar na região da Grande Lisboa.
Como tem acesso
pelo mar (onde estão charmosas aldeias como Sines e Porto Covo destacadas pelo
jornal britânico The Guardian em 2014 como as melhores da Europa) e é plano, o
Alentejo vem atraindo moradores e visitantes há muito tempo – mais específicamente
há mais de 7.000 anos. Nesta região estão muitos monumentos megalíticos: já foram catalogados mais de 100 menires isolados, cerca de 800 antas
(casas de pedra) e perto de 450 povoações megalíticas, só no concelho de Évora. Esta riqueza da
pré-história no Alentejo é das mais importantes da Península Ibérica, porque
alguns datam de até 5.500 anos AC. Na foto acima está o Cromeleque dos
Almendres e abaixo este repórter examinando um menir com o guia.
Não posso terminar esta lembrança do Alentejo
sem registrar outra atração turística tombada como Patrimônio da Humanidade pela Unesco - e agora por mim: o
Cante Alentejano. Mais do que dizer que “meninos, eu vi!”, devo dizer que
“meninos, eu ouvi!”.
Estava no
Castelo de Monsaraz (acima) jantando com o grupo de palestrantes da Conferência
Internacional da Vinha e do Vinho, comendo bochechas de porco e arroz de tamboril com um vinho da região no
restaurante Templários (que tem este nome porque pertenceu a esta ordem
militar religiosa no século XII, acredite!) quando o prefeito José Calixto, nosso anfitrião, nos brindou com uma apresentação de Cante Alentejano.
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Cerca de 25 agricultores, todos com mais de 50
anos, pessoas rústicas por
trabalharem na terra, entraram no salão e
cantaram canções simples, rurais, inocentes – e absolutamente lindas! É uma experiência inesquecível porque você espera um coral de marmanjos e ouve uma canção
arrebatadora. N
ão tenho vergonha de dizer que me
emocionei (como dá prá ver na foto abaixo, na qual estou disfarçando a emoção, e tive que me esconder no banheiro para lavar o rosto) - onde descobri que não tinha sido o único ...
Pois é, meus
queridos leitores e leitoras, passei alguns dias nesta região do Alentejo Central e vi,
ouvi, provei e vivenciei belezas e delicias das quais não vou me esquecer nunca
mais e recomendo com insistência. Simplesmente fiquei apaixonado. E como um apaixonado, nas próximas
semanas enviarei cartas de amor na forma de reportagens sobre todas estas
belezas e delicias do Alentejo.
(*) Rogerio
Ruschel é editor de In Vino Viajas a partir de São Paulo, Brasil, e lembrou
muito de sua terra, Rio Grande do Sul, quando visitou o alentejo. Agora quer
voltar – para o Alentejo.