segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Lembranças da "Melhor Região Vinícola do Mundo a Visitar": belezas e delícias de Regengos de Monsaraz e dos campos do Alentejo, Portugal

Por Rogerio Ruschel (*)
Meu querido leitor ou leitora, vou começar esta lembranças com poesia: parafraseando o poema I-Juca Pirama, de Gonçalves Dias, digo que “meninos, eu vi!”. Vi e me apaixonei por Reguengos de Monsaraz (a Cidade Européia do Vinho 2015), Monsaraz e seu castelo (foto acima, de João Fructuosa), São Pedro do Corval, Mourão e vizinhança no Alentejo, a região mais agrícola de Portugal, e também uma das mais bonitas.
 
E olha que dizer isso sobre uma região de Portugal é muito difícil porque, mesmo pequeno (é menor do que o Estado de Santa Catarina, aqui no Brasil) Portugal atrai turistas do mundo inteiro por uma grande lista de razões. Algumas destas razões sobre o Alentejo você vai ver a seguir, as mesmas que fizeram com que o jornal norte-americano USA Today a considerasse a melhor região vinícola do mundo para visitar, em 2014. E quem vai discordar deste que é um dos maiores jornais do mundo?  Na foto abaixo, de João Fructuosa, as videiras  se fundem com o céu e o lago Alqueva, na poética e premiada Algarve que conheci.

Lembrei do poeta romântico Gonçalves Dias porque se “nossa terra tem palmeiras” como ele escreveu, o Alentejo tem campos, muitos campos e que produzem o que precisamos para uma vida de enófilo: campos com vinhedos (a árvore que produz vinhos), com sobreiros (a árvore que produz rolhas de cortiça), com olivais (a árvore que produz o azeite de oliva), campos com cabras, vacas e ovelhas que produzem carne, leite e queijos e os famosos porcos alentejanos, especializados em nos proporcionar deliciosos enchidos e presuntos. Fiz uma degustação de azeites em uma típica casa alentejana na Mercearia Ilegal (foto abaixo) e também visitei uma fazenda de cabras onde fotografei o jovem da foto abaixo.


E para a sobremesa dos turistas enófilos, no Alentejo as gentes locais produzem doces impressionantemente deliciosos, e mel – um delicioso mel de abelhas alentejanas! O Alentejo é considerado o celeiro de Portugal e vem arrancando elogios de publicações especializadas em turismo de bom gusto de todo o mundo com sua beleza, simplicidade, conjunto de atrações - e preço acessível, meu caro leitor, porque este é outro grande benefício de viajar para Portugal.  Na foto abaixo, um bosque de sobreiros, um montado de sobreiros.

O que destacar numa região destas que tem duas cidades tombadas como Patrimônio da Humanidade – Évora e Elvas – e o famoso castelo de Monsaraz? Évora (foto abaixo) tem mais de 2.000 anos de história, embora sua data de fundação seja “apenas” em 1.166; mas bem antes disso a cidade foi sede das tropas do general romano Sertório que junto com os lusitanos, antigos moradores da região, teriam enfrentado o poder de Roma.

Já Elvas, que fica a apenas 8 quilometros da Espanha, foi a mais importante defesa do território português e a cidade mais fortificada da Europa durante muito tempo – e suas muralhas, junto com o centro históirico da cidade, são agora Patrimônio da Humanidade. E para mim Elvas tem outro charme especial: fica no municipio de Portalegre, que me lembra de Porto Alegre, a capital do meu querido (e também rural e vinícola) estado do Rio Grande do Sul. Sobre Monsaraz, me desculpe meu caro leitor ou leitora, mas como estive lá, caminhei por lá, fotografei por lá, entrevistei por lá, almocei e jantei por lá, quero apresentar em outra reportagem por aqui. Veja um pouquinho do castelo nas fotos abaixo.


Outro patrimônio mundial desta região do Algarve é um dos céus mais claros e limpos do mundo, razão pela qual oferece aos visitantes a possibilidade de fazer uma viagem interestelar na Rota Dark Sky Alqueva, o primeiro sitio certificado de turismo astronômico do mundo (fotos abaixo). E se você quiser conhecer nossas estrelas, astros e galáxias, saiba que pode ter ao seu lado gente de todo o mundo: na semana em que estive lá, uma diretora da NASA estivera no local fazendo palestra e pesquisando o universo. Não sei se ela procurava alguém em específico em Marte (já que agora eles confirmam a "potencial existência de vida"), mas eu tenho quase certeza que vi meus amigos  do Cinturão de Órion! Veja na foto abaixo o guia indicando o caminho para os turistas, e uma foto do astrofotógrafo Miguel Claro, um dos dirigentes da Rota Dark Sky Alqueva.

Como estamos em Portugal, certamente se come e se bebe muito bem no Alentejo. Visitei três das nove vinícolas do município de Reguengos de Monsaraz em companhia de seus enólogos: a Herdade do Esporão (com Rui Flores, na foto abaixo), a Carmim (com Rui Veladas) e a Monte dos Perdigões (com Jorge Rosado). A Herdade do Esporão – que também tem unidades no Douro, mas tem sede no Alentejo - é conhecida dos brasileiros por seus azeites e pelos ótimos vinhos Monte Velho, Torre do Esporão, Verdelho e Defesa.

Mas também é muito conhecida (e respeitada) por suas práticas de sustentabilidade, que fiz questão de conhecer e que quero apresentar em outra reportagem.  A Carmim é a maior cooperativa vinícola de Portugal, e aqui no Brasil pode-se encontrar seus azeites e também vinhos como os Monsaraz Millenium, Premium e os monovarietais de Touriga Nacional (muito bom!), Alicante Bouschet e Syrah. Meu passeio por lá e pela Monte dos Perdigões também vai ser mostrado aqui.

O Alentejo fica no centro-sul de Portugal (veja mapa acima), é a maior região do país e embora tenha muitos campos, lá fica o maior lago artificial da Europa – o Alqueva – e dois importantes parques - o Parque Natural da Serra de São Mamede e Parque Natural do Vale Guadiana. É uma região estratégica porque lá se encontram as bacias hidrográficas dos tres maiores rios do pais, Tejo, Sado e Guadiana que encontram o mar na região da Grande Lisboa.

Como tem acesso pelo mar (onde estão charmosas aldeias como Sines e Porto Covo destacadas pelo jornal britânico The Guardian em 2014 como as melhores da Europa) e é plano, o Alentejo vem atraindo moradores e visitantes há muito tempo – mais específicamente há mais de 7.000 anos. Nesta região estão muitos monumentos megalíticos: já foram catalogados mais de 100 menires isolados, cerca de 800 antas (casas de pedra) e perto de 450 povoações megalíticas, só no concelho de Évora. Esta riqueza da pré-história no Alentejo é das mais importantes da Península Ibérica, porque alguns datam de até 5.500 anos AC. Na foto acima está o Cromeleque dos Almendres e abaixo este repórter examinando um menir com o guia.

Não posso terminar esta lembrança do Alentejo sem registrar outra atração turística tombada como Patrimônio da Humanidade pela Unesco - e agora por mim: o Cante Alentejano. Mais do que dizer que “meninos, eu vi!”, devo dizer que “meninos, eu ouvi!”. 

Estava no Castelo de Monsaraz (acima) jantando com o grupo de palestrantes da Conferência Internacional da Vinha e do Vinho, comendo bochechas de porco e arroz de tamboril com um vinho da região no restaurante Templários (que tem este nome porque pertenceu a esta ordem militar religiosa no século XII, acredite!) quando o prefeito José Calixto, nosso anfitrião, nos brindou com uma apresentação de Cante Alentejano. 

--> Cerca de 25 agricultores, todos com mais de 50 anos, pessoas rústicas por trabalharem na terra, entraram no salão e cantaram canções simples, rurais, inocentes – e absolutamente lindas! É uma experiência inesquecível porque você espera um coral de marmanjos e ouve uma canção arrebatadora. Não tenho vergonha de dizer que me emocionei (como dá prá ver na foto abaixo, na qual estou disfarçando a emoção, e tive que me esconder no banheiro para lavar o rosto) - onde descobri que não tinha sido o único ...

Pois é, meus queridos leitores e leitoras, passei alguns dias nesta região do Alentejo Central e vi, ouvi, provei e vivenciei belezas e delicias das quais não vou me esquecer nunca mais e recomendo com insistência. Simplesmente fiquei apaixonado. E como um apaixonado, nas próximas semanas enviarei cartas de amor na forma de reportagens sobre todas estas belezas e delicias do Alentejo.
(*) Rogerio Ruschel é editor de In Vino Viajas a partir de São Paulo, Brasil, e lembrou muito de sua terra, Rio Grande do Sul, quando visitou o alentejo. Agora quer voltar – para o Alentejo.

8 comentários:

  1. muito bom.
    parabéns Rogerio pela sua clarividência.
    isto que você escreve e mostra é o maior segredo do planta Terra. Não espalhe muito por favor.
    fraterno abraço e volte sempre,
    cc

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    1. Carlos, entendo tua preocupação, mas considere duas coisas: 1) mais do que bonito e turístico, o Alentejo para mim é uma reserva do melhor DNA da natureza humana, então o mundo precisa conhecer; 2) meus leitores, embora sejam milhares e estejam em 126 países, são pessoas de bom gosto e cultura superior; assim, quando visitarem o Alentejo deixarão alguma contribuição. Obrigado pelas palavras, abs

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  2. Parabéns!
    O que aqui faz é um grande tributo ao verdadeiro Alentejo- aquele que vive das tradições, do peso das suas heranças.Uma verdadeira demonstração de como este paraíso deve ser vivido.
    O Alentejo está aqui de braços abertos para o receber.

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    1. Obrigado Vanessa, espero voltar muitas vezes, e quem sabe até ficar para sempre... Obrigado pelo prestigio da leitura, abs

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  3. já estou apaixonada também, seguramente irei lá e pedirei dicas hehe. Um texto que nos enche de vontade de viver...parabéns.

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  4. O Alentejo é realmente apaixonante!
    Lindo e tocante matéria, Rogerio!
    Brindemos a vida! Saúde! ����

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