sexta-feira, 12 de junho de 2015

Rótulos de vinhos dos anos 60 lembram a herança portuguesa da vinicultura em São Roque, no estado de São Paulo


Por Rogerio Ruschel, editor e Sandro Marcelo Cobello, texto e rótulos

Meu prezado leitor ou leitora, dias destes fui a São Roque, cidade cerca de 60 Km da capital paulista, e fiquei muito impressionado com a grande quantidade de turistas percorrendo o Roteiro do Vinho da região; passeio que vou apresentar aqui para você, em breve. São Roque tem uma diferença de outros polos produtores de vinho do Brasl: a herança é portuguesa e não italiana. Como In Vino Viajas é cultura, convidei um especialista em vinho e turismo para contar um pouco da história de sua cidade natal e ele fez isso recuperando antigos rótulos de vinhos produzidos na cidade durante as décadas de 60 e 70 que estão ilustrando este texto. Entre outras atividades, Sandro Marcelo Cobello foi secretário de turismo de São Roque, é um especialista em alcachofras (outra badalada tradição da região), pesquisa a memória da cidade e está estudando enologia. Perfeito, portanto, para falar com os leitores de In Vino Viajas. Com a palavra, Sandro Cobello.


Na Europa grande parte das cidades tem cultivo de uvas e produção de vinho, mas no Brasil devido a fatores culturais e climáticos, poucos foram os locais onde o cultivo da uva e a produção do vinho se estabeleceram; atualmente não mais do que três dezenas de cidades e regiões do país tem produção vitivinícola comercial permanente. Na foto abaixo um dos patrimônios históricos de São Roque, o Sítio de Santo Antônio, construído em 1681 e que foi doado por seu ultimo proprietário, o escritor modernista Mario de Andrade, ao Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional para preservação.


No estado de São Paulo – a região mais rica do Brasil - os primeiros vinhedos foram cultivados no século XVI na região onde hoje é Santos, na então Capitania de São Vicente; posteriormente na cidade de São Paulo, no bairro do Tatuapé no início da colonização também houve um ciclo de vinhedos, mas entre 1789 e 1808, para evitar uma eventual concorrência, Portugal proibiu a fabricação de vinhos no Brasil-colônia. Porisso somente na segunda metade do século XIX é que o cultivo de uvas e produção de vinho tomou novamente força no estado.
Com a chegada dos imigrantes europeus para a construção da Estrada de Ferro Sorocaba (1875) e da Fábrica Têxtil Brasital (1890), a Estância Turística de São Roque, a 60 km da capital no sentido de Sorocaba, começou a produzir vinhos e nas décadas seguintes se tornou o mais importante produtor de vinho no Estado. Na verdade, segundo historiadores, este seria um resgate da história porque há indícios de que seu fundador, o bandeirante Pedro Vaz de Barros, no ano de 1657 já cultivava videiras e produzia vinho na fazenda que originou a cidade. 

No início do século XX a cidade foi se transformando e todas suas encostas foram sendo tomada por vinhedos; nas décadas de 1950 e 1960 a cidade viveu um período áureo com mais de 150 vinícolas empregando legiões de trabalhadores e uma importante Festa do Vinho que deu destaque nacional à cidade e o título de “Terra do Vinho Paulista” - abaixo o poster da XXII edição da festa.


Mas a partir dos anos 80 a especulação imobiliária foi pressionando a região e transformando antigas áreas de vinhedos em sítios e chácaras de paulistanos e paulistas, de forma que a região entrou no século XXI com pouco mais de uma dezena de vinícolas. Abaixo a entrada de duas delas.




Outro fato pouco divulgado sobre São Roque que começa a ser resgatado, é que seu passado na vitivinicultura tem origem portuguesa e não italiana, como nas demais cidades e regiões do país. Este resgate histórico português teve um impulso em 2007 com a inauguração da Quinta do Olivardo, uma vinícola com proprietários de origem portuguesa, que vem atraindo cada vez mais visitantes e turistas que apreciam a farta culinária com pratos portugueses servidos em seu restaurante. Na foto abaixo, a área de recepção da Quinta do Olivardo.

As origens portuguesas da cidade também estão sendo resgatadas por meio de um mini-museu, pelas festas, danças e eventos. E nos últimos anos com a realização de levantamento de antigos rótulos de vinhos da cidade que confirma essa origem com nomes e sobrenomes portugueses nas vinícolas da cidade – rótulos que In Vino Viajas está apresentando agora, com exclusividade. 

E mesmo que tenhamos saudades dos antigos rótulos dos vinhos de São Roque, o tempo não para. Com a instalação em 2013 do Curso Superior em Tecnologia em Viticultura e Enologia do Instituto Federal na cidade (o terceiro do país e único no Sudeste), este resgate histórico vai ser acompanhado também de tecnologia produtiva na área vitícola. 

Explico: durante as décadas áureas de 50 e 60 muitas vinícolas (mesmo com uvas americanas e não européias) produziam vinhos com características trazidas por vinhos portugueses como o Porto e Vinho Verde, e com a chegada dos italianos na região na época da IIa. Grande Guerra, estas características foram sendo substituídas e as origens vitivícolas forem se perdendo. Quem sabe agora os enólogos que aqui estão se formando consigam re-encontrar os traços de identidade da origem portuguesa dos vinhos de São Roque, sem ter que abrir mão dos vinhos com herança italiana que são sempre muito bem-vindos?

-->
Veja outra herança da vinicultura de Portugal no Brasil em - Fazenda dos Cayres, em São Bernardo do Campo: o elo perdido da vinicultura portuguesa no Brasil? - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2013/08/fazenda-dos-cayres-em-sao-bernardo-do.html
 
(*) Rogerio Ruschel é editor de In Vino Viajas e Sandro Marcelo Cobello é consultor em Turismo Rural; contato-s e-mail smcbrazil@hotmail.com


9 comentários:

  1. Obrigado, Carlos Fioravante. Os vinhos de São Roque ainda sofrem preconceito, mas as vinícolas tem uma história de muito trabalho e estão investindo no caminho certo. Abs, Rogerio

    ResponderExcluir
  2. Tem um pequeno erro no seu texto, quando você diz "São Roque tem uma diferença de outros polos produtores de vinho do Brasil: a herança é portuguesa e não italiana" não é totalmente verdade, grandes vinícolas da época do surgimento da vitivinicultura em São Roque eram de imigrantes italianos como por exemplo Vinhos Primor, Capuzzo, Penonne, entre outras, e não exclusivamente portugueses. Inclusive o italiano Antônio Maria Picena fundador da Cooperativa Agrícola e Vinícola de São Roque onde atuou em prol da vitivinicultura, isso na déc de 20.
    Embora São Roque seja Fundada por um Português da época de sua fundação até efetivamente o surgimento de uma cultura do vinho se passaram séculos. talvez a época que fez este estudo você não teve acesso a grande parte da documentação, que de fato é escassa, sobre a história do vinho em São Roque.
    O que confunde, é que hoje, a maioria, das vinícolas que sobreviveram são de ascendência portuguesa.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Você tem razão. Obrigado pela informação. Rogerio Ruschel

      Excluir
    2. Olá...acho estranho não mencionar o VINHO SIMÕES, do meu avô Manoel que chegou ao Brasil em 1898 vindo de Sangalhos...Portugal...e se estabeleceu com vinhos no Bairro do Taboão em São Roque SP, e meu pai JOSÉ SIMÕES que continuou com a adega até meados de 1960, abastecendo diversos locais de São Paulo capital....e outros portugueses que aqui se estabeleceram....fica minha nota.....José Carlos português e Neto.

      Excluir
    3. Olá José Carlos. O autor não mencionou todos os produtores, apenas mostramos os rótulos como uma herança gráfica.
      Se você quiser escrever sobre o vinho do seu avô, será bemvindo, vamnos poder contar opara outros leitores. Abraços, Rogerio

      Excluir
    4. Era um ótimo vinho tinto! Produtor: Serafim da Cruz, meu vizinho na época.

      Excluir
  3. Antônio Ferreria de Almeida é tataravô dos meus filhos !
    Bisavó do meu marido !

    ResponderExcluir