terça-feira, 12 de março de 2019

O músico Mário Moita, alentejano de nascimento, brasileiro por adoção e cidadão do mundo por carreira, lança guia turístico do Alentejo

Por Rogerio Ruschel
Meu caro leitor ou leitora, por experiência própria sei que passar apenas três dias no Alentejo é realmente muito pouco para conhecer esta que é a maior e uma das mais apaixonantes regiões de Portugal. E como tem sido cada vez mais procurado pelos turistas – especialmente por brasileiros - um guia que ajude a utilizer melhor estes três dias seria muito bem-vindo. Pois foi o que o músico Mário Moita, alentejano de nascimento, brasileiro por adoção e cidadão do mundo por carreira, fez.
Mário Moita - que você já pode ter visto em shows em todo o Brasil ou em programas de televisão como o do Jô Soares, onde esteve três vezes - nasceu e cresceu no coração do Alentejo, em Reguengos de Monsaraz, distrito de Évora, e atualmente mora em Florianópolis, a bela capital de Santa Catarina. Pelo menos em parte do ano, porque sempre que pode vai comer uma bochecha de porco com os pais Lourenço e Gabriela ou viaja pelo mundo em turnês: já esteve em mais de 30 países fazendo shows, experiência que lhe permitiu até mesmo compor fados em japonês! 
Mário é um excelente compositor, pianista e cantor, sensivel e hamonioso, e procurou levar estas qualidades para o texto. Seu livro “Guia Turístico para visitar o Alentejo em três dias”, lançado no formato e-book foi escrito num tom intimista, com o autor apresentando referências geográficas e históricas do território e memórias da infância e juventude. 
Como se estivesse em um show de piano-bar, Mário conversa e compartilha com o leitor o que considera fundamental para se conhecer em apenas três dias no Alentejo, uma seleção do que ele gostaria que seus amigos conhecessem, como Évora, Estremoz, Vila Viçosa, Monsaraz e Reguengos de Monsaraz, sua terra natal. O prefácio é de autoria de José Calixto, ativo prefeito de Reguengos de Monsaraz e presidente da Recevin - Rede Europeia das Cidades do Vinho.

Por isso, para melhor apreciar o guia, achei que você deveria conhecer melhor o autor, e entrevistei o Mário com exclusividade, veja a seguir.
R. Ruschel - Onde e quando você nasceu? A familia é alentejana dos dois lados? Eles moram em Reguengos de Monsaraz, correto?

M. Moita - Nasci em Évora porque o hospital principal é nessa cidade, embora esteja muito minha família seja de Reguengos de Monsaraz. Minha familia é toda ALENTEJANA, com exepção de minha avó paterna que era espanhola, mas viveu desde os 14 anos em Moura, no baixo Alentejo. Minha mãe trabalhou numa empresa de cereais durante 12 anos e tinha uma agência de viagens. Meu pai trabalhou na sua infância na agricultura e depois de cumprir o serviço militar na Guerra de Moçambique regressou a Portugal e trabalhou durante 30 anos num banco. Estão aposentados e moram em Reguengos de Monsaraz.

R. Ruschel - Tua familia tem ou teve atividades relacionadas com a produção de uvas ou vinho ou azeite?

M. Moita - Minha familia materna está ligada à produção de uva há cerca de 5 gerações. Minha familia paterna está ligada à produção de azeitona também há muitas gerações.

R. Ruschel - Onde você passou a infância? Quais as melhores lembranças da infância?

M. Moita - Minha infância foi passada nas fazendas da familia entre a apanha da azeitona e a  ordenha mecanica de vacas de leite, e por isso estudei zootecnia. Tenho maravilhosas lembranças de andar de carro de mula com o meu avô paterno abastecendo um ponto de venda que minha avó tinha, onde vendia tudo o que hoje se chama organico. Do lado materno, muitas lembranças também de conduzir tratores, cortar sorgo para dar às vacas, ou passer dias inteiros a vacinar cabras. Minha adolescência foi passada nessas fazendas e em casa de um padrinho meu perto de Lisboa, que era corredor de rallys.


R. Ruschel - Onde você estudou música?

M. Moita -  Estudei musica em Reguengos de Monsaraz com um antigo maestro, o  Sr. Pagará, e com 10 anos iniciei meus estudos de piano no Conservatorio de Évora.

R. Ruschel - Você tem feito apresentações pelo mundo todo; quais as melhores recordações destes shows

M. Moita - Luto todos os dias por shows pelo mundo, porque adoro divulgar a minha cultura, e ter centenas de pessoas conversando comigo depois dos shows, querendo saber mais sobre a história do fado e de Portugal.

R. Ruschel - Desde quando e porque você está morando no Brasil?

M. Moita - Desde 2012 que parte do ano é passado no Brasil, com base em Florianopolis, porque minha esposa é de Santa Catarina.

R. Ruschel - Como você caracteriza seu trabalho?

M. Moita - É um resgate da História do Fado ao Piano, uma tradição de 1870 que continuo a ser o único português a divulgar pelo mundo. Apresento o fado de outra forma mais romântica e mais cultural, ligando História, Cultura e Música.
R. Ruschel - Em 2019 você comemora 20 anos de carreira musical. Quais os planos para este ano?

M. Moita - Pretendo divulgar mais meu trabalho em Portugal e no Brasil. Tenho planos também para França e Canadá. Estarei na China e Dinamarca entre outros paises, até o final do ano.

R. Ruschel - Porque decidiu escrever um guia turístico sobre o Alentejo? É especial para turistas brasileiros?

M. Moita - Há muito que tenho observado que a maioria dos turistas visitam em poucos dias Portugal, com foco em Lisboa, Cascais, Estorial, Porto e Fátima. Dezenas de pessoas no Brasil me pediam dicas sobre o Alentejo, porisso decidi, como conhecedor da região, fazer um guia que fuja dos roteiros normais turisticos.

R. Ruschel - Quais os três mais importantes patrimônios culturais do Alentejo?

M. Moita - Encontramos no Alentejo um gênero consagrado pela Unesco como Patrimônio Imaterial da Humanidade, o CANTE ALENTEJANO, além da gastronomia tradicional ser uma dieta mediterrânica, por exemplo o hábito de nos sentarmos á porta no verão e conversarmos com quem passa, algo que se está a perder com os tempos modernos. 

R. Ruschel - Quais os três mais importantes patrimônios arquitetônicos do Alentejo?

M. Moita - Encontramos no Alentejo um patrimônio muito rico desde o Neolitico, passando pelos castelos do século 12 como Monsaraz, até ao templo romano de Diana da cidade de Évora.

R. Ruschel - Quais os três mais importantes patrimônios históricos do Alentejo?

M. Moita - Temos o Palácio de Alcaçovas, onde foi assinado o tratado que dividiu o mundo ao meio com os Espanhois em Norte e Sul (antes do Tratado de Tordesilhas); o Castelo da Rainha Santa Isabel em Estremoz (onde actuei durante 13 anos) onde o Rei D Manuel I deu a carta régia ao Navegador Vasco da Gama para ele ir às indias, e por exemplo o afresco mais antigo do Alentejo (pintura) encontrada em Monsaraz, num antigo tribunal onde encontramos um retrato do bom e do mau Juiz.

R. Ruschel - Para o Mário Moita, quais os três mais importantes patrimônios emocionais do Alentejo?

M. Moita - Ser alentejano é chegar ao Alentejo e ter saudades de nossa paisagem, de nossas árvores, nossas oliveiras centenárias e nossos vinhedos, nossas comidas e o cheiro do inverno e do verão. Mas o principal patromônio é a familia, minhas raizes que estimo muito e admiro.

R. Ruschel - Podemos esperar outros guias semelhantes ao do Alentejo?

M. Moita - Conhecer o Alentejo em 3 dias é uma tarefa quase impossivel, mas será como uma primeira apresentação da maior região de Portugal. Para o fim do ano está previsto um guia abrangente que terá 3 percursos com 3 dias cada, que poderão ser feitos separadamente ou percorrendo o que eu chamo de 3 Alentejos: o Alto, o Baixo e o Litoral com mar.

R. Ruschel - O guia pode ser adquirido onde e como?

M. Moita - Pode ser adquirido online através de cerca de 32 lojas online ou pelo link directo na minha página de e-books em   https://mariomoita.com/

R. Ruschel - Você planeja algum dia produzir vinhos? Onde?

M. Moita - Pretendo a médio ou longo prazo ter um espaço onde se possa ouvir o Cante Alentejano, o Fado ao Piano e o vinho da talha, algo que meu avô paterno Mario Leitão fazia e que eu me acostumei a beber. O perfil do meu vinho terá o perfil de minhas castas prediletas, Alicante Bouchet e Aragonez.
Brindo ao Mário e ao Alentejo – com uma taça de Alicante Bouchet



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