segunda-feira, 2 de maio de 2016

O vinho do futuro: estudo sobre mudanças climáticas desenha um novo mapa da produção mundial de vinhos no ano de 2050


Por Rogerio Ruschel (*)
Meu caro amigo ou amiga, talvez a gente não esteja mais aqui lendo, escrevendo e bebericando vinhos no ano 2050. Mas é bom saber o que já está acontecendo hoje e deve se acelerar como tendência no mundo do vinho em relação as mudanças climáticas, ao aquecimento global e outras questões que afetam a agricultura como um todo e a sobrevivência dos vinhedos em particular. Na verdade nós seres humanos precisamos inventar um modo mais inteligente de manter a beleza (e a eficiência produtiva) da natureza que seja melhor do que o da foto abaixo.

Nós sabemos que o mundo produz vinhos com cerca de 2.000 diferentes tipos de uvas (como as da foto abaixo) e organizações internacionais investem para verificar o desempenho daquelas com maior potencial para sobreviver em um mundo mais quente em 2050.

Entre outros dados, o estudo “Climate change, wine, and conservation” revela um fato preocupante para os grandes players do momento: as regiões mais produtivas no mundo de hoje não serão capazes de manter o seu desempenho no futuro. Por outro lado o estudo revela que em outras regiões do planeta, mais frias, onde a produção agora é muito menor ou até mesmo inviável, se tornarão áreas potenciais de produção de vinho ou mais eficientes. O mapa que abre este artigo - publicado pelo portal Vinetur, da Espanha - apresenta um resumo do impacto das mudanças climáticas nas principais regiões produtoras de vinho do mundo no ano 2050. E a foto abaixo mostra a vida real do mundo do vinho.

Já se sabe que a Austrália e a França estão assustadas com as mudanças do regime de chuvas, e que muitos especialistas apostam em vinhos biológicos para enfrentar os tempos difíceis. Não está cientificamente confirmado, mas a região de vinhos de altitude em São Joaquim, na serra de Santa Catarina (foto abaixo), poderá se beneficiar com o frio.

Este estudo foi realizado por um grupo de pesquisadores indepedendentes do setor de vinho, de universidades dos Estados Unidos, China, França e Chile – veja a fonte no fim deste texto. Aliás, já publiquei várias reportagens sobre o assunto aqui no In Vino Viajas – veja no fim deste texto os links de algumas destas matérias. O estudo prevê um aumento das regiões vinícolas mais frias, aquelas com temperaturas médias anuais entre 13-15 °C de GST. O GST - Growing Season Temperature é um índice desenvolvido pelo Instituto de Investigação Agrária de Tasmânia (Austrália) para medir temperaturas médias, e é calculado tomando-se a temperatura média para cada mês da temporada da produção de vinho de sete meses (Outubro a Abril na hemisfério sul, e de abril a setembro no hemisfério norte), dividida por sete.


Você que é leitor de In Vino Viajas vai ser informado em primeira mão o que mundo vai saber no fim do mes de maio: o Simpósio Internacional sobre Temperaturas Frias do Vinho (em inglês International Cool Climate Wine Symposium - ICCWS), que vai ser realizado em Brighton, Inglaterra, de 26 a 28 de maio de 2016, vai consolidar com mais clareza os melhores lugares de clima frio para a viticultura no futuro, dependendo da sua GST. Mas já vem sendo divulgado um ranking das mais frias regiões vinícolas do mundo e alguns impactos potenciais; ou, digamos assim, uma suspeita do que poderia acontecer nestas regiões firas - veja a seguir.

Marlborough, Nova Zelândia (15,4 ° C)
As variedades Sauvignon Blanc, Pinor Noir e Chardonnay são colhidas em 23.200 hectares. O clima é frio e seco e a Sauvignon Blanc amadurecem mais lentamente em Awatere Valley. Na área mais próxima do litoral tem muito vento frio e as culturas deverão ser reduzidas devido a uma floração deficiente.

Rheingau, Alemanha (15,2 ° C)
Pinor Noir e Riesling são as principais variedades, colhidas em 3.200 hectares. Esta área é constituída por encostas íngremes com orientação para o sul, contribuindo para receber mais temperaturas frias e em um alto risco de geadas tardias. No período mais frio da colheita são obtidas as melhores uvas das encostas viradas para o sul, e nos anos mais quentes as uvas de frente para o leste serão mais beneficiadas.

Okanagan Valley, British Columbia, Canadá (15,1 ° C)
Merlot, Pinot Gris, Chardonnay e Pinor Noir são as variedades mais importantes. Com o tempo mais frio no norte, neste lugar o risco de congelamento é reduzido graças ao lago Okanagan. O ice-wine (vinho do gelo) produzido em baixas temperaturas em torno de -8 ° C e -14 ° C pode se beneficiar nesta região.


Suíça (14,9 ° C)

Pinot Noir, Chasselas, Gutedal e Gamay são plantadas em 14.800 hectares. Esta área é caracterizada por muitos meso-climas. As vinhas são plantadas em diferentes altitudes acima do rio Rhone. As áreas mais frias estão nas vinhas mais altas e com tempo mais frio em Valais.


Central Otago, Nova Zelândia (14,8 ° C)
Pinot Noir, Pinot Gris e Riesling estão em 1.950 hectares. Especialistas dizem que a variedade Pinot Noir, que tem níveis de açúcar e maturidade que o torna diferente,  poderão ser incrementados. Nesta área é normal ter mudanças bruscas de temperatura, o que fornece uma intensidade frutada, cor e acidez nas uvas – e isso pode aumentar.

Kremstal, Áustria (14,7 ° C)
As variedades Grüner Veltliner, Riesling e Zweigelt estão plantadas em 2.400 hectares. Nesta área, um sistema de três camadas com a idéia de diferentes épocas de coleta é usado, e a inclinação de suas encostas aumenta a energia solar e os ventos moderados Danúbio ajudam a manter um bom clima.

 

Champagne (14,7 ° C)

Pinot Noir, Pinot Meunier e Chardonnay são colhidas em 35.000 hectares. O clima desta região permite a produção de um vinho espumante com uvas de maturação baixa. 

Tasmânia (14,4 ° C)

Pinot Noir, Chardonnay e Sauvignon Blanc são cultivadas em 1.800 hectares. Esta área tem um clima excelente, tanto para a produção de vinhos espumantes como para vinhos tranquilos.

Região do Rio Ruwer, Alemanha (13,8ºC)

Riesling, Müller-Thurgau e Elbling são as variedades colhidas em 8.800 hectares.

Nesta área, os vinhos de diferentes aromas poderão assumir um maior equilíbrio e elegância, porque as plantas têm mais dificuldades para amadurecer com o frio mais intenso.

 

Saiba mais no estudo “Climate change, wine, and conservation” em http://migre.me/tFzgx
Alguns artigos já publicados por “In Vino Viajas” sobre sustentabilidade:
·      Microvinhas: os benefícios de produzir vinhos que são eco, micro, top e show - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/11/oportunidades-e-dificuldades-para-o.html

·      MicroVinya: a revolução dos minifúndios sustentáveis de Alicante, Espanha, com vinhedos centenários recuperados e vinhos com poderosa identidade social - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/05/microvinya-revolucao-dos-minifundios.html

·      Os impactos do Réchauffement de la Planète (a versão francesa do Aquecimento Global) no mundo do vinho - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/01/os-impactos-do-rechauffement-de-la.html

·      Fique esperto: saiba como a rolha de cortiça preserva os aromas do seu vinho e os recursos do nosso planeta - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/08/fique-esperto-saiba-como-rolha-de.html

·      Associazione Vino Libero: um manifesto italiano pela produção de vinhos com identidade, honestidade e sustentabilidade - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/02/associazione-vino-libero-um-manifesto.html






 



 







4 comentários:

  1. Olá Rogério,
    Adorei seu artigo!
    Sem dúvida uma ótima reflexão.
    Parabéns!

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    1. Obrigado, Amália. Grato pelo prestigio da leitura.
      Abraços

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  2. Boa tarde
    Na nossa serra do sudeste gaúcha, quais as perspectivas?

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  3. Prezado Ari, pesquisei e não encontrei dados seguros a respeito. Abraços
    Rogerio

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