sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Congresso de Enoturismo de Montevidéu põe na mesa a proposta de criação de uma Rota de Vinhos na América do Sul e planos de intercâmbio acadêmico e institucional


Por Rogerio Ruschel (*)

Meu prezadíssimo leitor ou leitora, desta vez cansei de verdade! Durante dois dias da semana passada fiquei mergulhado por mais de 20 horas em um salão em Montevidéu, Uruguai, ouvindo palestras exclusivas, apresentadas por especialistas da Argentina, Brasil, Chile, Estados Unidos, Espanha e Portugal como parte do 5o. Congresso Latino Americano de Enoturismo realizado pela Aenotur e Associación de Turismo Enológico del Uruguay (Ateu) – Los Caminos del Vino. Wilson Torres, presidente da Ateu e diretor de turismo e eventos da Establecimiento Juanicó presidiu o evento que abriu novas portas para a integração do enoturismo nos dois continentes. Na foto abaixo, palestrantes e realizadores do evento participam de uma foto histórica.

A Associação Internacional de Enoturismo (Aenotur) é formada por municípios e entidades gestoras do turismo vinculados à cultura do vinho e entidades promotoras de rotas do vinho de vários países da Europa e América Latina. In Vino Viajas tem prestigiado estes eventos porque a Aenotur tem dois importantes diferenciais: a troca de experiências proporcionada pela rede de quase 400 cidades representadas, e o fato de que países da América Latina não são apenas assistentes, e sim protagonistas na entidade. E este 5o. Congresso Latino Americano de Enoturismo de Montevidéu, é uma prova disso. Na foto abaixo o presidente do Congresso e a Vice presidente da Aenotur para a America Latina, Ivane Fávero.

Em um dos paineis foram apresentadas políticas públicas de desenvolvimento para o turismo por Benjamin Liberoff, Ministro Interno de Turismo do Uruguai; por José Arruda, diretor da Associação dos Municípios do Vinho de Portugal e por Ivane Fávero, Secretária de Cultura e Turismo de Garibaldi, a capital brasileira do vinho espumante. O Ministro Liberoff reconheceu a importância cultural e econômica do turismo relacionado ao vinho e lembrou que o Uruguai é um dos poucos países do mundo que recebe anualmente tantos turistas estrangeiros quanto sua população: cerca de 3,4 milhões de pessoas por ano! Uma grande lição para o Brasil, meu caro leitor ou leitora, um país quase 50 vezes maior do que o Uruguai que recebeu apenas 7 milhões de turistas em 2014 (incluindo o famoso legado da Copa do Mundo…) por razões diversas que no fundo são reflexos da ausência de políticas públicas de longo prazo.

Não vou fazer um resumo de 20 horas de apresentações, nem destacar a qualidade dos coffee-breaks (como os da foto acima), mas quero destacar tres temas abordados em paineis que abriram possibilidades importantes para o enoturismo em nosso continente, e que serão abordados nos próximos eventos da Aenotur. Os temas são a criação de uma Rota do Turismo do Vinho na America do Sul; a estruturação de um grupo de pesquisadores e professores de enoturismo dos diversos países; e a aproximação com os Estados Unidos, através da participação da agência de promoção especializada Visit Napa Valley.
Os benefícios de uma Rota do Turismo do Vinho na America do Sul foram apresentados por um painel do qual participaram Carina Valicati, consultora especializada da Argentina; Wilson Torres, presidente da Associación de Turismo Enológico del Uruguay; Gail Thorton, diretora da Southbridge Wine Programs do Chile e Edgar Leme, diretor da Vale das Vinhas, agência de turismo especializada de Bento Gonçalves, Brasil – na foto acima. A empresária chilena já vem organizando roteiros multi-territoriais porque isto pode ajudar um turista europeu decidir atravessar o Oceano Atlântico para conhecer vinícolas e bodegas na America do Sul. Espera-se que empresários dos diversos países levem adiante esta possibilidade levantada durante o Congresso.


Na sequência de um painel sobre capacitação do qual participaram representantes da Argentina (Mariana Cerutti), Brasil (Ivane Fávero, da PUC/RS) e do Uruguai (Gabriel Andrade, Diretor da Faculdade de Turismo da Universidade Católica del Uruguay – na foto acima) e de algumas apresentações de estudantes e pesquisadores do Uruguai e do Brasil, foi lançada uma proposta de montagem de um grupo de intercâmbio entre pesquisadores e professores de enoturismo e turismo dos diversos países. A conclusão a que se chegou é que com o desenvolvimento do enoturismo em várias regiões do Cone Sul serão necessários profissionais especializados; a Aenotur vai desenvolver planos neste sentido.

Clay Gregory, CEO da agência de promoção Visit Napa Valley (foto acima), apresentou aspectos do turismo nesta que é a região vinícola mais importante do chamado Novo Mundo, a California. Como de resto em qualquer lugar dos Estados Unidos, a promoção do turismo é levada muito a sério tanto pela iniciativa privada - que é o caso da Visit Napa Valley - quanto pelo governo. Segundo estatísticas oficiais, quase 21 milhões de turistas estiveram nas regiões vinícolas da California em 2008 – dos quais 5 milhões no Napa Valley. Gregory apresentou os programas de atração de turistas que associam arte, eventos desportivos e gastronomia a produção já respeitada internacionalmente das vinícolas do Napa Valley. Foi uma excelente oportunidade de ver como os gringos trabalham, e o quanto ainda precisamos desenvolver.

Ao fazer um resumo do evento, a Vice-Presidente para a America Latina da Aneotur Ivane Fávero (foto acima) lembrou:
·      Perfil do Enoturista: definimos quem é, de onde vem e para onde vai. Sabemos que ele busca mais do que vinho, que ele busca a cultura e a paisagem do lugar que o produz. Quer encontrar a experiência enoturística, aliada à qualidade de vida do local;
·      Oferta enoturística: é preciso constância e persistência, além de trabalho cooperado;
·      Capacitação para o Enoturismo: há que se refletir sobre a qualidade e a metodologia dos cursos que estão sendo ofertados. Capacitar para que, para quem e por quê? Além disso, é importante haver uma maior valorização dos profissionais, inclusive refletida em melhores salários;
·      Promoção do Enoturismo: após diversas apresentações ligadas ao tema, fica a certeza da necessidade de um uso mais efetivo da internet e todas as suas possibilidades.
·      Comercialização do enoturismo: há que se ofertar pacotes que conjuguem vinho, gastronomia, arte, esportes, vivências, numa perfeita harmonia. E há que se provocar no turista e no enoturista o desejo de estar no lugar que está sendo divulgado, algo como “o cenário está pronto, só falta você!”.  
Aenotur: precisamos fortalecer ainda mais a entidade que representa os destinos enoturísticos do mundo. Canelones – Uruguay – já manifestou o desejo de se associar. Agora buscamos a participação do Chile e do Napa Valley – EUA. Também foi sugerido a criação de grupos de trabalho, com trocas de informações. 

O Congresso recebeu mais de 150 participantes e contou com muitos apoiadores e patrocinadores como dá para ver na foto da pasta, acima. Wilson Torres, o presidente, encerrou os trabalhos lembrando que as próximas edições do congresso serão realizadas em junho de 2016, na Itália (o 2º Congresso Internacional de Enoturismo/Europa) e em setembro de 2016, em Mendoza, na Argentina, o 6º Congresso Latino Americano de Enoturismo. E finalizou afirmando que “a promoção do turismo ligado à cultura e ao turismo do vinho feita como um trabalho conjunto com outras cidades e outros países da América Latina vai permitir a criação de uma verdadeira “Estrada dos  vinho da América”, nos educar em qualidade de serviços, permitir a criação de manuais de boas práticas com padrões similares, e fundamentalmente facilitar a divulgação de nossas atrações.” Assino embaixo, Wilson.

Além das 20 horas da maratona de informações das palestras, os participantes do 5o. Congresso Latino Americano de Enoturismo tiveram eventos de confraternização e intercâmbio e fizeram várias visitas técnicas a vinícolas. Eu estava no Grupo B que visitou as vinícolas Artesana, Bouza, Marichal e Juanico - a maior do país, onde brindei com José Arrruda, diretor a AMPV – Associação dos Municípios de Vinho de Portugal – foto abaixo. Mas estas visitas foram tão agradáveis que merecem ser apresentadas com detalhes, o que vou fazer em outra história, aqui no In Vino Viajas. Também fui um dos palestrantes no evento e na foto mais abaixo está um registro deste momento que muito me orgulha, porque sei que participei de um momento de valor histórico para meu país, e que fiz muitos novos amigos. Tim-tim, amigos congressistas!

Para saber mais sobre o evento acesse http://www.enoturismo.com.uy
 (*) Rogerio Ruschel é editor de In Vino Viajas e participou do 5o. Congresso Internacional de Enoturismo a convite da Aenotur e da Associación de Turismo Enológico del Uruguay

 

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