sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Enoturismo e a economia da Espanha: 42.000 vinícolas vão receber 2 milhões de visitantes, gerando 50.000 empregos em 2014

Por Rogerio Ruschel (*)
Os números oficiais de 2014 ainda não estão fechados, mas as mais otimistas previsões do movimento do turismo na Espanha certamente vão bater novo recorde: são esperados 63 milhões de visitantes estrangeiros até o dia 31 de Dezembro de 2014. Esses dados confirmam que o turismo ainda é a principal indústria do país – e para sua informação, a França recebeu 90 milhões, a Itália 54 milhões e o Brasil apenas 6,5 milhões de turistas em 2013. Na foto de abertura parte da multidão de turistas que invade anualmente a cidade de Haro, em La Rioja, no dia 29 de Junho, dia de São Pedro, para a tradicionalíssima festa “Batalha do Vinho”, realizada desde o século XII e declarada de interesse nacional em 1965.

Neste contexto, o Enoturismo, o turismo ligado a cultura do vinho, é um dos nichos de mercado que fazem este crescimento ser possível. Na foto acima, uma vitrine mostra parte de caves subterrâneas em uma vinícola de Requena. Assim como o crescimento global do turismo no país, o turismo do vinho continua a ganhar popularidade, tanto de turistas nacionais quanto de internacionais. De acordo com a Asociación Española de Ciudades del Vino (Acevin), as 20 rotas dos vinhos espanhóis certificadas foram visitadas por 1.689.209 visitantes em 2013, um crescimento de 18% em relação a 2012. Mantendo-se este mesmo percentual – que é a aposta de analistas do setor - as 20 principais rotas de vinho do pais terão sido visitadas por 1.993.270 pessoas, ou seja, 2 milhões de visitantes em 2014! Na foto abaixo um vinhedo em Ametzmendi, na rota do vinho Txakoli de Getaria, no surpreendente País Basco.

A primavera e o outono continuam sendo as estações mais movimentadas para o setor, e embora a maioria dos visitantes seja formada por espanhóis curtindo seu próprio país, cada vez mais estrangeiros começam a descobrir as vinícolas (bodegas) e vinhedos espanhóis, especialmente alemães, britânicos e norte-americanos. Eu acrescentaria: e cada vez mais profissionais do setor da China frequentam o pais, para fazer cursos, propor negócios e até mesmo investir no ramo, mas isso é assunto para outro post. A pujança do setor vinícola espanhol certamente ajuda o turismo. A Espanha é o pais que tem a maior área de vinhedos e deverá ser o primeiro ou segundo maior produtor de vinhos do mundo ao fim de 2014. Em 2013 ficou com o terceiro lugar no World Ranking Wines & Spirit (WRW&S), o ranking dos rankings que soma a pontuação dos vinhos premiados de todos os países em diversos concursos – a Espanha teve 3.538 rótulos na listagem. Na foto abaixo um exemplo de como atrair enoturistas: incluir visita a uma das três atrações ligadas a Salvador Dali – como o Museu Dali, na foto - na Rota do Vinho Empordà, na Costa Brava, Espanha.

A Espanha tem 280.000 vinícolas produzindo – a maioria de origem ou formato famíliar - que poderiam ser visitadas, mas apenas cerca de 15% delas estão organizadas formalmente para receber turistas, grande parte delas localizadas nas regiões vinícolas de La Rioja, Catalunha e Castilla y León. A oferta de atividades para o turista é impressionante. As rotas oferecem cerca de 40 museus ligados ao vinho, entre os quais o Museo Dinastía Vivanco de la Cultura del Vino, em Logroño, La Rioja, considerado modelo pela Unesco (veja abaixo e conheça aqui: http://invinoviajas.blogspot.com.br/2013/12/museu-da-cultura-do-vinho-de-la-rioja.html ).

Cerca de 60 atividades lúdicas são oferecidas junto com a gostronomia e o vinho, desde observação de pássaros (veja foto abaixo, do Barranco de Hoz en Chera, incluida na Rota do Vinho Utiel-Requena e leia o post aqui http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/02/bird-degustar-vinhos-e-observar-aves.html ) até atividades desportivas e concursos de poesia, sem falar nas centenas de atrações culturais como museus, ruínas e centros culturais. Quer dizer: mesmo se você não gostar de vinho vai gostar do passeio.

O número de vinícolas com serviços de turismo certamente irá aumentar nos próximos cinco anos, uma vez que a combinação de gastronomia, história, cultura, arte e tradições locais já foi comprovada que fornece ao enoturismo um enorme potencial para crescer. E além disso as Rotas de Turismo ligadas a Denominações de Origem e a outras entidades de desenvolvimento regionais estão aumentando anualmente seus investimentos em qualidade e atração. Abaixo, interior de um pequeno restaurante montado em uma casa no Pais Basco.
  Um bom exemplo é o da Rota do Vinho Rioja Alta, que registrou quase 200 mil visitantes em 2013. Julio Ibarra Grande, gerente, informa que “entendemos a cultura do vinho como um processo global: não são apenas vinhas ou adegas, é o envolvimento da população, a história, a tradição, a paisagem como uma síntese de tudo isso. Por isso temos muita atenção para o patrimônio cultural, e além de trabalhar com os trades do vinho e do turismo, fazemos parcerias também com outros atores dos municípios como sindicatos, associações culturais e até mesmo bancos através da Associação para o Desenvolvimento de La Rioja Alta (ADRA) que nos ajuda em ações de apoio às empresas e à proteção e divulgação do patrimônio artístico e promoção cultural.” Na foto abaixo a comunidade de Baztan, incluída no roteiro da D.O.  Vinos de Navarra.
Ao longo dos últimos 10 anos o turismo relacionado ao vinho criou mais de 50.000 postos de trabalho em todas as regiões da Espanha, especialmente nas 20 rotas de vinho certificadas pela Acevin, o que vem ajudando bastante no aquecimento da economia e na redução das taxas de desemprego, que ainda são altas. Abaixo, a criativa produção de uvas em La Geria, nas Ilhas Canárias.
(*) Rogerio Ruschel é jornalista de turismo e meio ambiente, editor deste blogue e profundo admirador da dedicação ao turismo demonstrada pela Espanha
 


 

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