sábado, 5 de julho de 2014

Seis vinhedos muito radicais: no meio do oceano, em vulcões, altas montanhas, geleiras e desertos


Por Rogerio Ruschel (*)

Há 10 mil anos o homem planta vinhedos para fazer vinhos.
A Universidade de Adelaide, da Austrália, fez uma pesquisa e mostrou que fazemos vinhos com mais de 2.000 variedades de uvas, das quais 1.469 variedades são utilizadas para produção industrial. É o que chamo de “Vinhedo Global”, a versão vinífera da “Aldeia Global” imaginada por Marshal McLuhan nos anos 70. Plantamos uvas nas profundezas da cratera de um vulcão ativo até recentemente (como nas Ilhas Canárias) e até cerca de 10.000 pés acima do nível do mar, na Argentina, ou na praia, com banhos de mar, como no Taiti (foto acima). O blog Vinepair fez uma lista dos vihedos mais extremos do mundo, alguns dos quais mostramos aqui.


Vinho na cratera do vulcão, em Cabo Verde

Cerca de 1.000 moradores de uma cratera do vulcão Pico do Fogo, em Fogo, uma das ilhas do arquipélago de Cabo Verde, no centro do Oceano Atlântico, trabalham de forma cooperada na Associação dos Agricultores de Chã produzindo vinhos. Na ilha se produz uvas e vinhos há cerca de 120 anos, sem água nem energia. A Associação produz anualmente 40.000 caixas de vinho para consumo local e exportam  um pouco. O vinho mais curtido é o Manecão, um vinho semi-doce e semi-seco. Fotos abaixo.



Vinhedos no deserto do Sahara, Egito

A história mostra que os antigos egípcios importaram e comercializaram vinhos durante muitos milênios. A produção no país hoje é pequena devido a décadas de regime militar, seguido pelas recentes revoluções que destroem tudo. A Sahara Vineyards vem tentando fazer milagre em pleno deserto, perto da antiga cidade de Luxor e com o auxílio de irrigação, produz vinhos com 14 uvas brancas, entre as quais Viognier, Chenin Blanc e  Blanc de Noirs e 16 uvas tintas. 


Vinhedos em um atol no meio do Oceano Pacífico, no Taiti

Distante mais de 5.000 quilômetros do continente mais próximo, o enólogo Dominique Auroy, da vinícola Domaine Dominique Auroy, vem conseguindo plantar vinhedos nos solos de coral de um atol do Taiti com porta-enxertos importados desde o início dos anos 90. As vinhas, agora produzindo mais de 40.000 garrafas por ano, crescem a 100 metros da lagoa do atol, e menos de 400 metros do Oceano Pacífico em si. E muitas vezes ficam submersas, banhados pelo oceano.


Vinhedo em terras com lava das Ilhas Canárias, Espanha

O cultivo de uvas no vinhedo da vinícola La Geria Lanzarote, nas Ilhas Canárias, é um grande desafio. O solo é feito  literalmente de campos de lava e areia. Os ventos são fortes porque se trata de uma ilha no Atlântico. E raramente chove. Para obter vinho - e eles conseguem produzir dois milhões de litros de vinho por ano - as videiras são plantadas como se fossem moitas, em poços profundos de lama seca que recolhem água da chuva e fornecem alguma proteção contra os ventos. In Vino Viajas já publicou uma reportagem sobre isso, veja em http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/01/conheca-o-vinho-malvasia-que-nasce-na.html


O vinhedo mais setentrional do mundo, quase no Pólo Norte, Noruega

Lerkekåsa Vineyard é o vinhedo comercial mais setentrional do mundo, situado em Telemark, no centro-norte da Noruega. Eles plantam uvas aqui desde 2008 e fazem vinhos bons desde 2012. Podem receber até 8 visitantes para pernoite. Durante a Segunda Guerra Mundial os nazistas construiram nesta região uma fábrica de água pesada para construir uma bomba atômica que foi destruída pelos aliados em um episódio retratado no filme "The heroes of Telemark" de 1965 com Kirk Douglas e Richard Harris nos papéis principais. Mas não comemoraram com vinho local.


O vinhedo mais alto do mundo, na Argentina

Produtores de vinho colhem uvas nos vinhedos da Bodega Colomé pelo menos desde 1831. Isso não é pouco, porque os vinhedos se localizam entre 2.300 e 3.111 metros de altitude em relação ao nivel do mar, na região alta dos Vales Calchaquis, Argentina, e é considerada a área vitivinícola de maior altura no mundo. As uvas são malbec (tinto) e torrontés (branco). Atuamente a Bodega Colomé é um conjunto de vinícola, hotel (com 9 quartos) e museu, e é propriedade do magnata suíço Donald Hess, que produz vinhos na Califórnia, Austrália e África do Sul, além da Argentina. 

(*) Rogerio Ruschel é jornalista, enólogo e mora em São Paulo, Brasil, mas com In vino, Viaja.




8 comentários:

  1. Excelente matéria, gostei muito. Gostaria de provar cada um desses vinhos, por que como sabemos o vinho é uma legítima expressão de seu terroir...

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    1. Obrigado, Jeriel. Tua leitura honra meu espaço. Pois é, também gostaria de provar os vinhos. Eventualmente algum árabe do deserto pode ser encontrado por aqui... Abs

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  2. La tercera foto es de viñedos don leo. En parras coahuila Mexico. La mayoría de tu información y fotos sale en vinepair.com. de quien es el crédito?

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    1. El credito es de Vinepair.com, como lo estoy a decir en el primero paragrafo del texto - vea la, Leo

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    2. Gracias por la aclaración! Saludos

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  3. Olá!
    Concordo com o Jeriel, no entanto falta os vinhedos de Portugal.
    Dão excelentes vinhos, muitos deles premiados com medalhas de Ouro.
    Já para não falar da região do Douro e do Vinho do Porto, como este Porto - Noval Vintage Nacional Porto 1997.

    Saúde
    João Silva

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  4. Também concordo com o Jeriel - e contigo, João silva. Um brinde aos portos!

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