sexta-feira, 30 de agosto de 2013

A aventura da vida nas vitrines criativas do Museu de História Natural de Genebra


Por Rogerio Ruschel (*)
O Museu de História Natural de Genebra não poderia ter uma localização mais adequada: está no meio de um jardim com árvores enormes e centenárias (como os cedros do Líbano, abaixo), em uma bela colina com vista para a cidade e para o Lago Leman, na região central da cidade. Caso esteja em dúvida, anote: a foto do ambiente do Ártico, acima, é um dos ecossistemas do museu...

Como tudo na cidade, o acesso por transporte público é fácil e rápido. A entrada é grátis nesse prédio dos anos 50 que é o maior museu de história natural da Suiça e um dos mais importantes da Europa.

Em seus quatro andares oferece 8.000 m2 de área de exposições e cerca de 2 km de corredores com vitrines muito bacanas como estas de pássaros e aves, abaixo. Pode parecer muita caminhada, mas você nem percebe, mas se for o caso pode ir parando e descansando.

De maneira geral o Museu apresenta animais dos cinco continentes, dinossauros e outras atracões irresistíveis para crianças (como leões, girafas, tigres e elefantes muito realistas, veja abaixo) além da fauna nacional e regional com muito destaque.

As vitrines com ecossistemas são quase reais, e se tornam ainda mais interessante com o áudio ambiental que transporta você para "o local". Outras vitrines são reais de verdade - contém animais vivos, como estes corais abaixo.

O museu recebe cerca de 250 mil visitantes por ano e suas coleções são de renome mundial. No terceiro andar está muito bem apresentada a história da vida na terra e a evolução do homem - veja as cabeças na foto abaixo; elas giram para permitir visão de todos os ângulos. Outros museus têm isso, mas aqui em Genebra é muito bem apresentado.

Na área de mineralogia o museu apresenta peças de todo o mundo, mas tem uma seção extraordinária sobre a própria Suíça. As coleções sobre insetos e sobre fósseis são interessantes para os visitantes, e científicamente valiosas, muito respeitadas por cientistas.

A loja de recordações tem boas surpresas entre jogos, materiais didáticos, peças de vestuário, canetas e blocos. Como qualquer local suiço, é muito limpo, com apresentação impecável e agradável de ser visitado.

O único problema é que quase tudo está escrito em frances, o que dificulta um pouco se você não tiver familiaridade com o idioma. Mas é um belo passeio, uma das atrações que faz valer a pena visitar Genebra e o Lago Léman. Um brinde a isso com vinho chasselas suiço!

(*) Rogerio Ruschel rruschel@uol.com.br - é jornalista de turismo de qualidade e consultor especializado em sustentabilidade e foi a Genebra por conta dele mesmo.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Saint-Émillion, Bordeaux: atrações subterrâneas, belezas medievais e delícias gastronômicas




Por Rogerio Ruschel (*)
Saint-Émilion é um pequeno e charmoso vilarejo francês fundado oficialmente no século VIII por Emilio/Émillion, um santo católico que deu seu nome ao povoado - e que está no brazão da cidade, veja abaixo. Fica a uns 35 Km da cidade de Bordeaux e é uma das principais denominações de vinhos da França; ao lado de Médoc, Graves e Pomerol, é uma das mais importantes referências quando se fala em vinho Bordeaux.

Além do terroir adequado (veja http://invinoviajas.blogspot.com.br/2013/07/um-agradavel-passeio-pelo-terroir-de.html) a experiência ajuda: registros indicam que os romanos já plantavam vinhas na região no século II e que vinho comercial é produzido aqui desde o século VIII. Sobrevivente da idade média e declarado Patrimônio Mundial pela Unesco em 1999, o vilarejo tem 2.700 moradores e vive do vinho e do turismo. Abaixo, fotos do prédio mais antigo da cidade que ainda é funcional, uma casa na Porte de La Cadene, de 1291, que exibe seu modo construtivo.

No vinho a relação habitante por vinícola é provavelmente a mais elevada do mundo: para cada três moradores existe uma adega, que nesta região se chama château, mesmo que não seja um castelo de verdade. E no turismo também apresenta números assombrosos, porque recebe milhões de visitantes por ano para curtir o casario, as vielas e o ambiente.

Cercando a cidade estão cerca de 900 produtores de vinhos que plantam 5.400 hectares com uvas tintas Merlot (60%), Cabernet Franc (30%) e Cabernet Sauvignon (10%) – e até alguma coisa de uvas brancas, mas não muito expressivo.

Além do vinho e do enoturismo, a cidade tem como atrações as casinhas amontoadas, subindo e descendo ladeiras e alguns prédios realmente interessantes, como catacumbas do século XII e uma Igreja Monolítica (foi construída ou escavada com um único bloco de pedra – veja abaixo)

Outra atração é um monastério onde estaria o corpo de Emilio/Émillion, o monge beneditino que fundou a cidade (veja abaixo). Segundo a lenda, o monge seria um caminhante que teria vindo para a região para morrer, mas acabou atraindo muitos visitantes e fiéis depois de construir um monastério. Todas estas atrações subterrâneas estão interligadas ou são muito próximas, de maneira que é muito prático e fácil passear pela cidade.

Passear pelas ruelas, subir e descer ladeiras gastas pelo tempo, tirar dezenas de fotos de paredes seculares, prédios, torres de igrejas, campanários, monastérios, muros romanos, entrar nas muitas lojinhas, livrarias e lojas de vinhos faz parte obrigatória do roteiro. 

No Centro de Informações bem localizado (ao lado do monastério, no centro da cidade) você consegue mapas, posteres, folhetos e outros materiais e fica sabendo de roteiros e cursos que vão enriquecer o passeio. Cursos de degustação de vinhos de 1 a 3 horas ajudam a aprender como degustar uma taça de vinho e identificar seus aromas. Informe-se também sobre um roteiro bastante popular que é um passeio de trenzinho pela região vinícola (veja abaixo), em torno da cidade, podendo parar em alguma cave para visita, degustação e compra de produtos – veja um post sobre isso em http://invinoviajas.blogspot.com.br/2013/05/saint-emilion-visita-aos-subterraneos.html

Não se esqueça também de degustar alguns prazeres gastonômicos, além dos vinhos. Muitos deles estão em bons restaurantes com culinária francesa, que podem ser pequenos bistrôs em vielas e ladeiras, bares ligados a caves de vinhos ou restantrantes maiores, como o principal restaurante da cidade que fica em cima da igreja subterranea (veja foto abaixo).
 
Outro dos prazeres que você não deve perder é desfrutar de um dos doces mais típicos da França: os macarrons. Produzidos pelas freiras, que acabaram expulsas durante a Revolução Francesa, os macarrons da cidade tem o formato de um biscoito, com creme no meio, e macios por dentro, como um tipo de bolo - veja na foto abaixo. 

Vou encerrar com uma dica: vale a pena ir de carro alugado a Saint-Émillion. Eu estava em Bordeaux e como fica a apenas 35 Km, decidi testar meios de transporte para meus leitores: fui de ônibus e voltei de trem. Tudo muito bom e pontual como sempre, mas tem um pequeno detalhe: a estação de Saint-Émillion (veja abaixo) fica a pelo menos um km do vilarejo, não tem nada para fazer lá a não ser esperar o trem (que vai passar no horário anunciado, é claro), e é preciso encarar uma leve mas cansativa subida até o vilarejo (veja abaixo também). Além disso, de carro você pode curtir melhor a paisagem e parar onde quiser. 




(*) Rogerio Ruschel é jornalista e aprendeu a gostar de vinhos Bordeaux em Saint-Émillion.




domingo, 25 de agosto de 2013

A brava gente siciliana, a alma de um território e um recurso turístico inesquecível


Rogerio Ruschel (*)
Localizada no caminho da Europa para aÁfrica, e da Europa para a Ásia, o longo dos séculos a Sicilia (mapa abaixo) foi colonizada por povos fenícios, gregos, romanos, árabes, normandos, espanhóis, alemães, franceses e outros. Esta mistura de culturas deixou um legado arquitetônico e cultural espantosamente rico - que você vê em outros posts aqui no In Vino Viajas, começando em agosto de 2012 – tombado como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO e que atrai turistas de todo o mundo.

Mas também gerou um povo lutador, resistente e charmoso, como os três idosos no banco de praça em Linguaglossa, na foto de abertura – três dos 5.287 moradores do vilarejo. O siciliano é um povo diferenciado do resto da Itália e é por si próprio uma atração turística. O siciliano, o povo dos três mares criativamente representados na bandeira desta região autonoma da Itália, quase independente (veja abaixo), costuma dizer que antes é siciliano e depois, italiano. 

Com a entrada da Itália no grupo do Euro os jovens sicilianos começaram a procurar emprego não apenas em Milão ou Roma, mas em outros paises europeus. E na outra ponta os mais velhos, que fizeram previdência social em Liras italianas, se aposentaram com grandes ganhos em Euros e hoje parece que se dedicam apenas a esperar, sem pressa, a chegada do futuro como as mulheres de Malvagna ou o cidadão abaixo flagrado em Mojo Alcântara, comunidade com 800 habitantes na região do vulcão Etna. 

Estes dois fatos explicam porque muitas comunidades vem perdendo população ao longo das ultimas duas décadas na Sicilia. E a foto abaixo é um bom exemplo ao mostrar oito idosos em Malvagna, uma comunidade com 814 habitantes no total.

Mas o siciliano não perdeu seu modo de vida, seu jeito Rústico e alegre de ser, seus hábitos do quotidiano. Sicilianos são muito ligados à honra e à família - valores fundamentais da “Cosa Nostra”, a máfia siciliana. Flagrei cenas muito curiosas, como padrinhos e noivos relaxando em um casamento ao ar livre em Castiglione e dois daqueles veículos que só existem na Sicilia e que estão em extinção.

Como a maioria das comunidades são pequenas e rurais, cada vilarejo tem seus próprios temperos e receitas, baseadas geralmente em carne vermelha de ovelhas e muitos frutos do mar, legumes, frutas e verduras – muitas delas preparadas apenas para festas populares, como denunciam os cartazes abaixo.

Além, é claro, de massas que incluem “maccaruni di casa”, massa com molho de ovelha ou de carneiro - como o pendurado ao ar livre, numa feira em Catania, abaixo; “agnelo al forno ripieto di pasta mastrazzoli, ovelha assada com uma massa que contém mel e “cassatelle”, uma massa cozida com requeijão.

E desde pequenos, os sicilianos aprendem a se deliciar com os deliciosos sorvetes regionais, outra atração turística imperdível.

Cada pequeno restaurante tem sua própria receita – e todas combinam com sucos de frutas, lemoncello ou um vinho siciliano como Alcano, Faro, Marsala, Moscato di Noto, Sambuca di Sicilia ou um Nero D’Ávila, conhecido dos brasileiros, que embora ainda não seja um DOC siciliano, é muito popular e tem sido comparado aos melhores syrahs. E além de alimentos frescos, você encontra produtos industrializados regionais à venda em mercados como os de alimentari e panificio, abaixo.
  Os sicilianos gostam de preservar suas tradições e realizam muitas festas baseadas no calendário agrícola, na memória histórica e na religião, eminentemente católica cristã: durante todo o ano se realizam festas de santos, festa de frutas, de azeites, de colheitas e muitas outras – como esta procissão, abaixo, com show de banda, que encontrei em um vilarejo não identificado.


Veja mais sobre a Sicilia:


Lenguaglossa, Moio Alcântara, Castiglione e Malvagnia:



Tindari e as montanhas Peloritani:




Pesquisa da Universidade de Catania:

Forza D’Agró: http://invinoviajas.blogspot.com.br/2012/09/taormina-don-corleone-e-o-vinho-de.html 
 (*) Rogerio Ruschel, jornalista de turismo, enófilo e consultor em sustentabilidade e cidadania esteve na Sicilia por 30 dias trabalhando em um projeto de turismo cultural. E quer voltar.




quinta-feira, 22 de agosto de 2013

A importância da internet para o turismo na Itália, segundo a Associazone Nazionale Cittá del Vino


Por Rogerio Ruschel (*)
A Itália – assim como a França, Espanha e Portugal - respeita e valoriza muito suas pequenas comunidades, que, mesmo que atualmente estejam passando dificuldades econômicas, ainda são a maioria das comunas e representam verdadeiramente as “raízes”, o depositário dos valores culturais do povo, de seu modo de vida, de seus alimentos, de seu modo de pensar o mundo.

Nestes países da Peninsula Ibérica os municípios costumam se associar para fazer promoção conjunta ao atrair turistas (o que se torna mais economico e mais eficiente) formando redes como “Associação de Cidades Felizes”, “Cidades Floridas”, “Cidades do Azeite”, “Vilarejos históricos” e assim por diante.

A Associazione Nazionale Città del Vino foi criada em 1987 em Siena, na Toscana italiana, basicamente com o objetivo imediato de preservar a imagem de cidades-sede de produtores vinícolas sérios, num momento em que o excesso de álcool metanol em alguns vinhos provocou o envenenamento de 19 vitimas fatais e muitos feridos em fevereiro daquele ano, em um escandalo de proporções nacionais.
Hoje a entidade tem perfil técnico, institucional e promocional e reúne uma rede de 482 comunidades associadas (e alguns produtores) - a grande maioria pequenos vilarejos, com até 6.000 moradores - que produzem excelentes vinhos e operam o melhor enoturismo. O editor deste blog, Rogerio Ruschel, entrevistou Paolo Saturnini, ex-presidente da Associazione e criador do movimento CittasLow em abril de 2012 – veja em http://invinoviajas.blogspot.com.br/2012/07/cittaslow-revolucao-de-gestao-publica.html

Além da podução do vinho, estas cidades tem no turismo uma das mais importantes atividades econômicas: a Associazone oferece 140 “estradas do vinho”, 4.000 albergues (com 142.000 leitos), 1.500 fazendas agroturísticas (com 18.000 leitos), 188 campings e milhares de restaurantes de todos os portes. A rede é responsável por 200.000 hectares de vinhedos de qualidade, que representam 80% dos vinhedos italianos com classificação DOC e DOCG. No mapa abaixo você pode ver quais foram as 20 mais destacadas provincias italianas em enoturismo em 2012, resultado do somatório de vários fatores.

A Associação faz uma pesquisa anual junto a seus associados, denominada “Osservatorio sul Turismo del Vino”. Nas próximas semanas In Vino Viajas vai publicar vários posts sobre este relatório para compartilhar com os leitores - muitos dos quais são operadores de enoturismo no Brasil e exterior. Aqui neste post vamos destacar a importância da internet na promoção turística. 

No relatório número 11, relativo a 2013, fica clara a importância da internet e dos blogs de turismo. Veja no primeiro quadro abaixo (“raggiungiere l’azienda”): a internet é a fonte responsável por 89,2% da preferência (escolha) dos turistas que chegam aos hotéis de agriturismo - fazendas, pousadas, albergues e similares, como a fazenda na foto abaixo. Depois vem a recomendação  boca-a-boca (passaparola), com 74,9%.

O outro quadro, de “promozione territoriale”, mostra que o site da prefeitura na internet é o maior responsável pela promoção territorial e atração dos turistas (88,3%), seguido pelos pontos de informação turística. Mas aqui pode existir um  "viés de pesquisa": esta é a opinião dos prefeitos das cidades e eles evidentemente entendem que o mais importante é o site da prefeitura (mantido por eles), e não outros sites na internet, como os blogs de turismo. Mas quem costuma pesquisar estes sites de prefeituras sabe que a grande maioria deles está focada na prestação de serviço para os moradores, o que faz sentido. De qualquer maneira não há dúvida: o grande canal de promoção turística é de fato a internet - e entre eles os blogs independentes de viagem, como o In Vino Viajas.

In Vino Viajas vai destacar outros aspectos desta pesquisa da Associazione Nazionale Cittá del Vino nas próximas semanas. Mas se estiver com pressa acesse o site da Associação em


(*) Rogerio Ruschel é jornalista, enófilo e gosta muito das pequenas cidades com seu povo simples, afetuoso e seus grandes valores éticos universais.