domingo, 31 de outubro de 2021

Pesquisa na Espanha comprova: vinhos de uvas autóctones estão tendo mais valor do que vinhos com castas globais




Por Rogerio Ruschel 

Meu prezado leitor ou leitora, veja só a força das Denominações de Origem na preferência do consumidor. 

Se você é um daqueles apreciadores de vinhos que tem certeza de que vinhos franceses são melhores e tem mais “valor” do que vinhos de outros países, é bom ler o que se segue. A edição 2021-2022 do guia “Wine Up! Wine” Monovarietal fez uma descoberta muito interessante e animadora para a vitivinicultura espanhola: em 2020 o preço médio e a qualidade dos vinhos elaborados com castas tipicamente espanholas (autóctones ou não como Tempranillo, Garnacha, Monastrell, Cariñena, Graciano nos tintos e Verdejo, Albariño, Xarel-lo e Viura nos brancos) superou o preço médio e a qualidade dos vinhos elaborados com castas francesas como Cabernet Sauvignon, Pinot Noir, Malbec, Merlot, Tannat nos tintos, e Chardonnay e Sauvignon Blanc nos brancos. 
 
No que diz respeito às castas de vinhos monovarietais, o Wine Up! confirmou o empenho que viticultores e enólogos da Espanha vem demonstrando nos últimos anos pelas castas autóctones que representam quase 80% dos vinhos publicados. Existem os conhecidos Tempranillo ou Verdejo, mas há uma presença crescente de outras castas menos conhecidas como Tinto Velasco, Merseguera, Albillo Real ou Treixadura; na verdade esta edição mostrou 51 variedades diferentes. Só para lembrar, a Tempranillo é considerada a grande casta espanhola, e é conhecida também poi Tinta Roriz, Cencibel, Tinta Fino e Aragonez.

No que diz respeito ao preço médio, os vinhos produzidos com castas nacionais superam os produzidos com castas estrangeiras, sinal de que o consumidor também valoriza esta revolução na vinha. Nesta edição, o preço médio e a pontuação por garrafa doi de 13,75 € e 90,94 pontos, o que representa uma excelente relação qualidade-preço para os vinhos espanhóis.

As Denominações de Origem estão demonstrando ser essenciais para a valorização e, sobretudo, a promoção e comunicação dos vinhos elaborados com castas autóctones, vinhos com identidade e origem. Dos vinhos degustados nesta edição, 85% estão protegidos por uma Denominação de Origem (D.O.) e as demais são Indicações Geográficas protegidas (vinhos locais).

O Wine Up! é a única publicação no mundo em que um provador avalia todos os vinhos em sessões que não ultrapassam 50 vinhos e em sistema de degustação às cegas, pelo que fornece um único critério baseado na experiência de degustação e avaliação de milhares de vinhos sem a intervenção de dados relativos a marcas, procedência e variedade, razão pela qual o guia se destaca pela objetividade nas pontuações e comentários de cada um dos vinhos, vermutes e destilados valorizados.

A avaliação dos mais de 1500 vinhos de praticamente todas as regiões produtoras da Espanha está disponível em um livro eletrônico em formato PDF sem custos no site www.wineup.es

O Wine Up! Possui mais de 7000 links externos para ampliar a informação sobre adegas, vinhos e também enoturismo com opção de reservas para visitas a adegas ou compras online.

Fonte: Portal Vinetur


sexta-feira, 8 de outubro de 2021

Espanhóis identificam 6 perfis de consumo entre os 22 milhões de bebedores de vinho; e no Brasil?

Por Rogerio Ruschel

Meu prezado leitor ou leitora, o Observatório do Mercado Vitivinícola Espanhol (OeMv) realizou um estudo sobre a "Caracterização do consumidor espanhol de vinho", uma radiografia dos mais de 22 milhões de consumidores de vinho espanhóis para determinar como são, como é o consumo, que tipos de vinhos preferem e como tendem a se aproximar do presente e do futuro. Leia a seguir e me diga: qual é o seu tipo, o seu perfil?

 

O principal grupo é o dos amante dos sabores atuais e requintados, os TRENDY (FASHION FOLLOWER). Este grupo é formado por 26,4% dos consumidores. Para os TRENDY, o vinho ocupa um lugar privilegiado. Ele é um consumidor que segue tendências e os vinhos que consome são uma projeção da sua imagem. Seu conhecimento e interesse pelo mundo do vinho lhe dão uma satisfação pessoal, à qual ele dá grande importância, porque o vinho satisfaz um aspecto importante de sua auto-avaliação e agrega valor de prestígio a ele. Assim, o TRENDY está disposto a pagar mais pelo vinho que consome, porque não é apenas uma bebida, o vinho representa valores. Este consumidor demonstra seu conhecimento em seus relacionamentos, mas mantém alguns padrões pré-estabelecidos. Ele prefere vinhos mais bem feitos e evita consumir vinhos frescos. (E acrescento eu: deve se exibir na internet...)

 

No segundo grupo mais expressivo, o INTERESSADO OCASIONAL, com 24,5% dos consumidores, o perfil é o de um consumidor de vinhos com interesse em experimentar coisas novas, mas o consumo de vinho não tem horários específicos, nem é tão importante assim para sua auto-imagem. Ele é um consumidor ocasional, mas mostra um alto grau de interesse nisso. As preferências deste tipo de consumidor vão para vinhos mais suaves e vinhos brancos de forma positiva. Além disso, está aberto à inovação e à introdução de mudanças nos conceitos atuais do mundo do vinho. (E acrescento eu: deve ser formado por novos consumidores que agora estão chegando agora ao mundo do vinho, e provavelmente deve ter muita representação feminina).

O terceiro grupo mais proeminente é aquele relacionado à ROTINA, composto por 21,5% dos consumidores. Trata-se de um consumidor ocasional que deixa a terceiros a escolha e a compra do vinho. A razão dessa atitude é que ele não se considera preparado ou não tem interesse em escolher e também mostra desinteresse por testes e degustações. Por outro lado, o preço é de grande importância. Este consumidor mostra preferência por um tipo de vinho mais macio, mas não inclui vinhos brancos ou rosés em suas preferências.   

 SOCIAL: Este grupo é formado por 13% dos consumidores. Para este consumidor, o vinho não faz parte dos seus hábitos de consumo e nem dos seus hábitos de compra. Ele apenas encontrou um momento de aproximação social com o mundo do vinho, mas isso pode não acontecer de novo. Isso significa que ele o consome dentro de um determinado contexto que não promove, pois não se interessa pelo mundo do vinho e admite sua ignorância. Seu baixo envolvimento com o vinho significa que ele não mostra relutância em novas idéias ou conceitos. O preço também não é muito importante, pois apresenta um baixo nível de interesse na compra. As suas preferências apontam para um tipo de vinho mais suave mas não valoriza os vinhos brancos ou espumantes.   

Uma pessoa cosmopolita, que gosta de mudanças e não hesita em experimentar novas experiências é o consumidor apelidado de URBANITA INQUIETO, que na Espanha representa 7,6% dos consumidores. Está altamente relacionado com o mundo do vinho e apresenta uma grande variedade de momentos de consumo. Da mesma forma, mostra um elevado nível de conhecimento e grande interesse pelo mundo dos vinhos e procura diferentes fórmulas para aceder ao mercado. Estes fatores estimulam a sua curiosidade, o que o torna um consumidor aberto às mudanças, à inovação na categoria e com uma certa tendência para os vinhos mais jovens. O seu interesse e curiosidade não são alheios ao problema do preço, mas isso implica introduzir uma racionalização sobre o vinho que escolhe e o seu tempo de consumo; quer dizer: ele até experimenta coisas novas, mas examina a relação custo-benefício.  

Fiel às marcas habituais e com pouco interesse inovador ... na última posição estão os espanhóis incluídos no grupo TRADICIONAL, composto por 6,9% dos consumidores. O TRADITIONAL apresenta uma elevada presença do vinho nos seus hábitos de consumo, mas é condicionada pelos preços. Tem hábitos de compra perfeitamente definidos quanto ao tipo de vinho, origem, marcas. Além disso, mantém ideias claras sobre os conceitos que se tratam no mundo do vinho. Dificilmente abre mão de ideias “veteranas” sobre consumo de vinho.  

Na verdade, meu caro leitor ou leitora, o que está ocorrendo é que – pelo menos na Espanha, mas acho que também no Novo Mundo – os consumidores mais tradicionais (que defendem campanhas elitistas e conceitos antiquados), são cada vez menos – como diz  um amigo meu, os velhos consumidores estão morrendo.... E estão cedendo lugar aos TRENDY, muito ajudados pela internet que permite  exibicionismos, onde se fala mais do que se escuta.   

Considerando esta pesquisa, me parece correto imaginar que se a indústria buscar uma simplificação na comunicação do vinho, poderá atrair mais de 35% de consumidores que hoje apenas gravitam em torno do vinho, mas não são atraídos por ele, porque se sentem “despreparados” para beber coisas complexas; ou simplesmente não trocam sua cerveja por ele. E aqui no Brasil, onde não educamos o consumidor, apenas investimos em propaganda para vender por volume, será que conhecemos nossos consumidores? 

Cartas para a redação...  

Fonte: Portal Vinetur, Esencia Wines