Por Rogerio Ruschel (*)
O Equador é um país
pequeno, mas surpreendente, com muitos atrativos turísticos baseados em rica
herança arqueológica, arquitetura histórica, atrativos urbanos, parques
naturais, vulcões, cultura típica
tradicional, o tesouro do arquipélago de Galápagos – e estradas de ferro
sensacionais.
Ingapirca, um "mini-Cuzco" no Peru
Como parte do Equador fica
no litoral do Oceano Pacífico (como a capital econômica e super-porto,
Guayaquil) e a outra parte está no alto da Cordilheira dos Andes (inclusive a
capital, Quito), chegando a mais de 6.100 metros no pico mais elevado, a linha
férrea Ferrocarril Transandino Nacional se tornou uma espécie de símbolo da
unidade nacional ao ligar as duas partes do país separadas por grandes
montanhas de difícil superação.
Cotopaxi, o vulcão mais alto do mundo em atividade
Primeira obra
modernizadora do Equador, a estrada de ferro que une o litoral com a serra
equatoriana é considerada até hoje a de construção mais dificil e uma das mais
perigosas viagens de trem do mundo – e, acredite, caro leitor, até 2010 as
pessoas podiam viajar no teto dos trens, literalmente no teto do mundo.
Olhe bem: centenas de jovens aboletados no teto do trem
Em 2009 um acidente
pavoroso com dezenas de mortos (o terceiro ou quarto na história da ferrovia)
fez o governo suspender as viagens no teto do trem, mas mesmo sem isto, a
viagem ainda está no livro “1.000 coisas para fazer antes de morrer.” Com novos
investimentos em segurança, atualmente a linha liga Alausi até Riobamba,
passando por Guamote e pelo famoso Nariz do Diabo, para chegar à capital,
Quito. Pois em 2005 eu fiz esta
viagem – e no teto do trem – veja a foto abaixo.
A construção foi iniciada
em 1861 e os primeiros 91 quilometros foram inaugurados em 1873, ligando
Yaguachi a Milagro, ainda ao longo da costa. Cerca de 4.000 operários morrreram
durante a construção (muitos deles trabalhadores jamaicanos trazidos pela
empresa de engenharia norte-americana) a maioria de malária, mas muitos
despencando Andes abaixo; no quilometro 106 no povoado de Naranjapato foi
construido um cemitério para os mais de 150 trabalhadores que morreram só para
poder construir o trecho do Nariz do Diabo.
Fiz o roteiro de Guayaquil
até Alausi em outro trem, o Chiva Express, criado pela Metropolitan, a maior
agencia de turismo do Equador, para receptivo de turistas internacionais.
Similar ao Transandino, mas mais confortável, o Chiva Express é um vagão
compropulsão própria a diesel e faz paradas em parques ecológicos e estações
menores com algum valor turístico ou para refeições, como em Machicho – mas
isto voce vai ver aqui no In Vino Viajas, em outro post.
Chiva Express: uma tentativa de viajar no teto do mundo de maneira mais "civilizada"
Como integrante de um grupo
de jornalistas convidados pelo Ministério do Turismo do Equador, nosso programa
incluia uma visita a Ingapirca – um sitio arqueológico muito interessante, um
“mini-cuzco”, que voce tambem vai ver aqui em outro post.
O embarque em Alausi
Alausi é uma pequena
cidade em média altitude (uns 2.300 metros, o que é médio para o Equador), geralmente utilizada como
ponto de embarque do trem que vai fazer a famosa Rota do Nariz do Diabo, o
trecho do Transandino mais perigoso e desejado por turistas, inaugurado em
1901. Cidade simples, sem muitos atrativos, Alausi pode ser um bom local para
fotografar famílias de equatorianos, especialmente agricultores com suas roupas
coloridas – como as das fotos - e comprar recuerdos que serão úteis como toucas
de lã e malhas mais quentes para encarar o frio andino…
Quando o trem encosta em
Alausi, centenas de pessoas – especialmente jovens aventureiros falando idiomas
estranhos – se aboletam no trem, tentando ocupar as janelas do lado direito, as
que permitem uma visão melhor do assustador trecho até Riobamba, incluindo a
passagem do Nariz do Diabo. Até 2 anos atrás, a correria era para ocupar o teto
do trem, como você pode ver nestas fotos de 2005.
Salve-se quem puder
O Nariz do Diabo é uma
rocha perpendicular pendurada na montanha a 1.900 metros do nível do mar, em
uma região da Cordilheira dos Andes com o sugestivo apelido de Ninho do Condor.
Para permitir que o trem pudesse descer (ou subir) por esta pedra
perpendicular, foram construídas estruturas de aço literalmente enfiadas na
montanha com bandejas suportando trilhos. O trem anda para a frente
vagarosamente, para, um ou dois funcionários descem e controlam uma uma ré por
um trilho auxiliar para pegar outro trilho e descer mais um pedaço, repetindo
este ziguezague por cerca de 2 quilometros, dos quais 800 metros fica
literalmente pendurado no espaço.
Funcionários verificam os trilhos antes de chegar no Nariz do Diabo
A viagem é lenta e
cuidadosa, e dura cerca de 2 horas e meia. Para meu azar – e agora dos meus
leitores – o trecho mais delicado e bonito do Nariz do Diabo estava coberto por
neblina quando paqssei por lá – alias, o que acontece quase sempre, porque os
Andes mantém vários picos com neves e nuvens eternas.
Um brinde a isso com uma
taça do vinho local produzido com a uva Nacional Branca, tomado em um
restaurante em Alausi, enquanto esperamos o trem da morte!
(*) Rogério Ruschel é
jornalista e consultor especializado em sustentabilidade e esteve no Equador a
convite do Ministério do Turismo daquele país.