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terça-feira, 26 de maio de 2015

Conheça Madame do Vinho, a sommeliére que pesquisa vinhos nas estradas de terra do Brasil e os leva aos grandes salões de degustação


Por Rogerio Ruschel (*)

Prezado leitor ou leitora. Sonia Denicol é uma sommelière que desenvolve um trabalho de pesquisa, divulgação e venda de vinhos brasileiros de identidade, através da marca Madame do Vinho. Baseada em São Paulo, Sonia viaja por regiões escondidas em todo o pais para pesquisar novos produtos, e divulga as melhores descobertas em seu blog e quando atua como jurada em degustações. Se você que está lendo isso não mora no Brasil, saiba que esse é um trabalho muito difícil porque o país é muito grande e o preconceito contra o vinho brasileiro é muito forte. Mas é um trabalho importantíssimo que respeito muito e por isso pedi que Denicol, entre uma e outra viagem respondesse algumas perguntas para que eu pudesse te apresentar a Madame do Vinho. Na foto acima, de Nadia Jung, a Madame e o vinho, e na foto abaixo, alguns destes vinhos brasileiros pouco conhecidos – por enquanto.


R. Ruschel: Qual é a tua formação, o teu trabalho, desde quando e como você faz?
S. Denicol: Sou filha de gaúchos, aprendi a gostar de vinhos desde menina com a minha família. E aí, quando eu passei por uma fase de mudança de carreira, resolvi transformar a paixão que eu tinha pelo vinho em trabalho. A ideia surgiu em 2013 e o projeto começou efetivamente em 2014, justamente com os vinhos brasileiros, com os quais eu já tinha familiaridade e um contato mais facilitado com os produtores. Criei então a marca Madame do Vinho e através dela iniciei um trabalho de vendas diretas ao consumidor final, aproveitando o network que eu já tinha estabelecido no meu trabalho anterior.
Optei pelos vinhos de pequenos produtores, primeiro porque eram produtos que me davam uma vantagem de exclusividade em relação a lojas e supermercados. Segundo porque já naquela época eu comecei a perceber que, por serem produções pequenas e mais artesanais, mostravam uma qualidade incrível e uma identidade bem brasileira. Aí eu me encantei por eles e não parei mais! Ao mesmo tempo em que eu desenvolvia o projeto, fui buscar uma formação, como os cursos de Sommelier do Senac e a certificação do Wine & Spirits Education Trust (WSET). Mas com certeza os maiores aprendizados vieram das viagens para visitar produtores. Não há melhor aprendizado do que conhecer a produção de vinho “in loco”! Hoje o trabalho é bem simples: eu envio a seleção de vinhos por e-mail para os clientes. Eles fazem os pedidos por e-mail mesmo ou por telefone. Em São Paulo eu faço as entregas pessoalmente. Para outras localidades o envio é por transportadora. E para ampliar a carteira de clientes, todo lugar ou momento pode ser uma boa oportunidade de fazer novos contatos: uma feira, um evento de degustação, uma festa, indicações de amigos e por aí vai.

R. Ruschel: Voce trabalha só com vinhos brasileiros? Porque? Dá para comparar com produtos estrangeiros?
S. Denicol:
Sim, só trabalho com vinhos brasileiros por acreditar que eles são tão bons quanto qualquer outro vinho do mundo. Ao contrário de outros países, o consumidor brasileiro desconhece o que é produzido em seu próprio país, seja por falta de informação ou por puro preconceito. Então eu também abracei a missão de divulgar e quebrar paradigmas.
No passado tínhamos uma produção de qualidade inferior e essa imagem ainda hoje gera preconceito e rejeição ao produto nacional. Porém, a partir da década de 90, houve uma evolução incrível. Os produtores fizeram a lição de casa, foram buscar o aprimoramento da produção, do vinhedo a vinícola, equiparando os padrões de qualidade aos da produção mundial. Neste ponto podemos sim comparar os vinhos brasileiros aos estrangeiros, são tão bons quanto. Porém eu considero importante destacar que estas comparações nunca podem perder de vista o estilo dos vinhos de cada região e de cada país. (Na foto abaixo, alguns dos vinhos da vinícola Atelier Tormentas, em foto do blog de Flavio Henrique).

Apesar do Brasil estar geográfica e históricamente inserido no chamado Novo Mundo do vinho, seu estilo tem muito mais a ver com o do Velho Mundo. As condições de solo e clima das regiões produtoras brasileiras geram vinhos menos potentes porém mais elegantes, com teor de álcool mais moderado, maior acidez e frescor. Já os vinhos do Novo Mundo são mais encorpados e potentes, tem teor de álcool mais elevado e menos frescor. Alguns críticos e especialistas, com nítida preferência pelo estilo Novo Mundo, acabaram por determinar este padrão como referência de vinhos de qualidade. Então muitos consumidores que seguem a linha destes críticos e gostam do estilo, julgam os vinhos brasileiros, assim como outros neste estilo, como ruins e de baixa qualidade, o que não é verdade. É apenas uma questão de preferência de paladar, mas não de falta de qualidade. Inclusive é bom ficar atento, porque este padrão vem mudando na Europa, há uma tendência para vinhos menos alcoólicos e com mais frescor. Será que aí os vinhos brasileiros vão entrar na moda? (Garagem criativa: na foto abaixo alguns dos badalados vinhos de Eduardo Zencker apresentados no blog de Lis Cereja – ambos naturebas de carteirinha).
 
R. Ruschel: Qual o perfil dos produtores que voce revende, representa? Comente um pouco como eles vivem, trabalham, as familias, o ambiente  onde produzem.
S. Denicol: Os pequenos produtores com os quais eu trabalho tem uma proposta de produção mais artesanal, com cultivo sustentável e mínima intervenção nas elaborações. Mas o traço comum mais importante entre todos eles é a busca por produzir vinhos com identidade bem brasileira, que realmente expressem a relação entre variedade da uva, lugar de origem, cultura local e a filosofia de seu produtor, muito mais do que atender a padrões de mercado. A vida de todo produtor de vinhos é de muito trabalho e também de muita tensão, sobretudo quando o clima de chuvas intensas, geadas e granizo ameaçam destruir a produção de um ano inteiro. Diferentemente das grandes vinícolas, onde há toda uma equipe de agrônomos e enólogos encarregados da produção da uva ao vinho, o pequeno produtor tem uma relação muito mais próxima com a terra, com as uvas e com todas as etapas do trabalho, do campo até a vinícola. E quase sempre toda a famíllia se envolve também. (É o caso do vinho de Lizete Vicari, produzido no litoral de Santa Catarina, na foto abaixo).

Muitas vezes a vinícola, ou a cantina, como eles costumam chamar o ambiente de produção lá no sul, é na própria casa, no porão, na garagem ou em construções anexas a casa, muitas delas mantendo as antigas estruturas de pedra e madeira construídas pelos primeiros imigrantes. E há sempre um projeto futuro, de construir o lugar ideal, de produzir um vinho especial que idealizam e até mesmo de chegarem a produções orgânicas. É uma relação muito apaixonada com o vinho. É um negócio do qual eles dependem para viver, mas tem algo mais, tem um amor e também uma generosidade imensa em receber que vem do prazer e do orgulho de partilhar o vinho que fazem. E aí muitas vezes você se vê sentado a mesa partilhando de uma refeição com toda a família. Essa é sem dúvida a experiência mais profunda, prazerosa e emocionante do vinho. E quantas vezes eu já chorei!
R. Ruschel: Como você trabalha com os produtores? Onde os descobre? Como avalia o produto deles?
S. Denicol: Eu estou o tempo todo pesquisando, estudando as regiões e a história, e fazendo contatos para descobrir onde se produz bom vinho pelo Brasil! Normalmente pela internet eu descubro a maioria dos produtores. As vezes é por indicação, durante uma viagem, quando alguém me recomenda um pequeno produtor, daqueles que ficam escondidos porque não tem nenhuma placa de sinalização para chegar até ele. Então basta um pequeno desvio na rota para encontrar algo surpreendente. Aí quando eu me deparo com uma destas preciosidades eu vou logo conversar com o produtor, quero saber tudo, qual é a sua história, como é o lugar onde produz, o seu jeito de ver e fazer o vinho. E quando se encaixa no perfil que eu procuro, então formamos uma parceria, que é bem simples, um acordo comercial para vender os vinhos diretamente ao consumidor final. É uma ponte entre o produtor e os consumidores, para fazer chegar até eles vinhos incríveis e desconhecidos, que dificilmente se encontram no mercado em geral. (Veja abaixo um mapeamento da Embrapa que já inclui regiões emergentes na produção vinícola). 

Para avaliar os vinhos eu considero o conjunto do trabalho do produtor e o resultado na taça, se o vinho é bem feito e se tem um equilíbrio bom e agradável de cor, aromas e paladar, se ele me encanta, se dá prazer de beber e sobretudo se ele me diz: “eu sou do Brasil”! O meu interesse aumenta ainda mais quando vejo apostas em variedades sabidamente bem adaptadas no Brasil, apesar de não serem comercialmente tão valorizadas, como Riesling Itálico, Peverella (veja abaixo) e Moscatos entre as brancas, e Cabernet Franc, Teroldego, Marselan, Ancellotta, Barbera e Sangiovese entre as tintas. Algumas destas variedades fizeram bons vinhos, muito consumidos até a década de 80, mas que acabaram sendo substituídas por Cabernet Sauvignon, Merlot e Chardonnay, com maior demanda de mercado. Há vinhos incríveis elaborados hoje com estas variedades por pequenos produtores e que eu aposto no grande potencial que elas tem para revelar vinhos bem brasileiros, com a qualidade que a gente espera dos bons vinhos. (Abaixo, o Era dos Ventos Peverella em foto de Pedro Mello e Souza)

R. Ruschel: Você pode destacar algumas marcas ou produtores?
S. Denicol: Nossa, são tantos e tão bons! Mas eu gostaria de destacar dois em especial: o meu primeiro parceiro de trabalho, um dos pioneiros no Brasil de produções mais artesanais, mais autênticos e naturais, que é o Atelier Tormentas, do Marco Danielle. Há 10 anos atrás produzir este tipo de vinho no Brasil era uma ousadia e representava a contramão do que se produzia e vendia no mercado. Foi um tempo muito difícil, de muitas críticas, quase nenhum apoio e muitas portas fechadas. Mas vale a pena persistir quando a gente acredita em alguma coisa, pois hoje o Marco é referência neste tipo de vinho e produz um Pinot Noir que é considerado por muitos apreciadores como o melhor produzido no Brasil com esta variedade. (Na foto abaixo, Marco Danielle fotografa um de seus badalados vinhos naturais e de produção reduzida.)
Na outra ponta está um dos mais novos projetos, também ousado, a Vinha Unna, da jovem e competentíssima Marina Santos (na foto abaixo). Ela investe exclusivamente no cultivo orgânico e biodinâmico, não só na sua própria produção de vinhos, mas dando consultoria para vários outros produtores da Serra Gaúcha para reconversão dos seus vinhedos. Ao contrário de todos os que insistem em dizer que nesta região não é possível produzir em sistema orgânico, incluindo a própria indústria química, para quem não interessa a expansão de uma agricultura mais sustentável, a Marina prova, com seus belos vinhos e com uma produção doméstica de ervas, legumes, frutas e verduras biodinâmicas, que é possível sim, que dá certo e que tem muita qualidade. 

Ela também tem trabalhado com estas variedades mais “brasileiras”, como a Cabernet Franc e a Barbera, e o resultado tem sido incrível, tudo o que ela produziu na primeira safra se esgotou em poucos meses. Vejo no trabalho do Marco, da Marina, e de tantos outros que estão fazendo trabalhos semelhantes, um novo caminho se desenhando na produção do Brasil, de vinhos focados em sustentabilidade, qualidade e identidade. Um caminho sem volta e que já tem a adesão de muitos consumidores. Invariavelmente, quando um cliente compra um vinho destes e gosta, ele sempre pergunta: que outros vinhos brasileiros como este você tem? É um bom sinal, não é mesmo?

O trabalho da Madame do Vinho de divulgação e venda de vinhos brasileiros com identidade pode ser conhecido no blog http://madamedovinho.blogspot.com.br. Para receber a seleção de vinhos com todas as informações envie um e-mail para madamedovinho@terra.com.br 
 
(*) Rogerio Ruschel, editor deste blog, sabe que muitas estradas de terra terminam em grandes salões sofisticados - e podem ir além...



sexta-feira, 22 de maio de 2015

Uma ideia diferente: ajude um vinhedo urbano comunitário em São Francisco, na Califórnia, e relembre os coloridos e doidos anos 60


Por Rogerio Ruschel (*)
Dear friends, eu acredito firmemente que as pessoas que apreciam vinho e especialmente curtem a cultura do vinho – que é tudo aquilo que permite a existência do vinho mas não está na garrafa – participam de uma espécie de comunidade que chamo de Vinhedo Global. O Vinhedo Global é a versão vitícola e contemporânea da Aldeia Global, o conceito criado em 1962 pelo canadense Marshall McLuhan, o primeiro filósofo a tratar das transformações sociais provocadas pela revolução tecnológica do computador e das telecomunicações. Ou seja, é um vinhedo sem proprietários e sem limites, do qual todos participam, de qualquer lugar - como os voluntários apreciando o que colheram, na foto abaixo.

Pois quero convidar você a conhecer o vinhedo urbano comunitário que está sendo implantado em São Francisco, Califórnia, em um ambiente quase hippie, num clima dos coloridos e sonhadores anos 60. Mais do que isso, como integrante da revolução silenciosa do Vinhedo Global que In Vino Viajas proporciona, sugiro que você participe dele. Lembra do flower-power dos anos 60? Pois as fotos abaixo foram feitas na Alemany Farm neste ano de 2015...


Embora pareça surpreendente, em alguns grandes centros urbanos do mundo é possível encontrar pequenos vinhedos e pequenas vinícolas produzindo vinhos comercialmente. Um deles é o Neighborhood Vineyards Project (Projeto Vinhedos do Bairro, em livre tradução), um vinhedo comunitário com sede em São Francisco, na Califórnia. O projeto está sendo implantado na Alemany Farm, uma pequena fazenda que já produz hortifrutis naturebas e organiza muitos programas educativos, comunitários e voluntários - como o festival da colheita do cartaz abaixo.

A atividade da vinicultura está no início, mas promete. O projeto é de duas jovens na casa dos 30 anos, Jenny Sargent e Elly Hartshorn, que estudaram vinicultura e enologia na França e já produzem vinhos a partir de uvas na Costa Central da California. Em 2013 elas plantaram 230 vinhas de Pinot Noir em uma encosta voltada para o sul na Alemany Farm, em Bernal Hill, um dos lugares mais quentes de São Francisco (e com noites frias). Veja o plantio na foto abaixo.

A Pinot Noir tem raízes que crescem para fora em vez de crescer só para baixo, e se dá bem em regiões costeiras com areia e solo rico em argila; assim poderão aguentar melhor o solo de rocha sedimentar de sílica pesada desta fazenda, na qual já existiu no passado um grande lixão. Na foto abaixo cena de um programa da série Mythbusters da Discovery Channel sobre abóboras, que foi gravado na fazenda.

O lançamento da primeira safra está previsto para 2016 e este será o primeiro vinho feito a partir de uvas cultivadas na cidade de São Francisco desde o ano de 1906 quando um grande terremoto destruiu os últimos vinhedos que cresciam nas colinas ao redor da cidade. São Francisco chegou a ter alguma importância na vinicultura dos Estados Unidos. Uvas zinfandel, grenache e outras quase desconhecidas como folle blanche - todas vindas da Europa e replantadas em uma estufa em Sonoma - cresciam em jardins e vinhedos como parte da cidade e da região, depois da Corrida do Ouro, até o grande terremoto de 1906. A uva zinfandel veio da Itália no meio do século XIX e é a variedade Primitivo, que por sua vez tem parentesco próximo com a uva croata Crljenak Kastelanski.

A fazenda é das moças (na foto acima, uma das produtoras, Elly Hartshorn) mas é mantida com muita ajuda de doadores e da comunidade. As vinicultoras estão agora reunindo 30 mil dólares para a etapa final do projeto, e estão vendendo os vinhos regionais delas (foto abaixo) para criar um portfolio de clientes, até o lançamento dos produtos locais, a partir de 2016.
Mas como se trata de um vinhedo comunitário, elas aceitam doações e desde já os interessados podem se inscrever para reservar a compra do futuro vinho. Mais do que isso, se você quiser trabalhar na colheita, pode se candidatar desde agora, basta se inscrever. E assim, participar do Vinhedo Global que In Vino Viajas acredita que existe. Saiba mais aqui: http://www.neighborhoodvineyards.org/  ou aqui: http://www.alemanyfarm.org/
Conheça outro minúsculo vinhedo urbano de grande sucesso em Paris, o Clos de Montmartre: http://invinoviajas.blogspot.com.br/2013/05/clos-de-montmartre-o-pequeno-vinhedo.html
(*) Rogerio Ruschel é editor deste blog a partir de São Paulo, Brasil, e acredita que as pessoas que apreciam a cultura do vinho fazem parte de um grande Vinhedo Global – mesmo que ainda não saibam disso…

quarta-feira, 20 de maio de 2015

In Vino Viajas, três anos de evolução: o mais internacional blog de cultura de vinho e enoturismo da America Latina, com leitores em 121 países


Por Rogerio Ruschel (*)
Estimado leitor ou leitora: estamos de aniversário aqui no “In Vino Viajas”. Não publico posts (aquelas notinhas curtas) e sim reportagens jornalísticas. Minha primeira matéria foi publicada dia 29 de maio de 2012, e agora, três anos depois, estou publicando a de número 302. Quando comemorei 2 anos fiz uma homenagem a um leitor de Surgut, da província de Khanty-Mansly, da Sibéria, Rússia, porque era meu leitor mais longínquo e isolado; repito agora a homenagem porque ele continua sendo – veja abaixo.

Nestes três anos contei 301 histórias relacionadas à cultura do vinho, vinho, enoturismo e turismo de qualidade. Pesquiso no mundo inteiro, entrevisto profissionais, dirigentes, lideranças e escrevo sobre vinhedos, vinhos, queijos, azeite de oliva, frios, temperos e produtos alimentícios típicos. Escrevo sobre as belezas do Brasil e fico muito feliz quando vejo que pessoas do mundo inteiro gostam de nosso país – como, por exemplo, ver um leitor do Uzbequistão, na Ásia Central, lendo sobre o Mercado Ver-o-Peso, de Belém do Pará (abaixo).

Escrevo sobre patrimônio histórico rural e urbano, parques, jardins, estátuas, museus e eventos culturais que animam as pequenas comunidades ou agitam as grandes cidades, porque sei que isso tem valor para quem se ama e ama seu país. Como os tchecos, turcos, norte-americanos, italianos e outros cidadãos que estavam acessando “In Vino Viajas” ao mesmo tempo como mostra a imagem abaixo.

Não sei se tenho leitores fora do planeta Terra, mas uma reportagem publicada em março de 2015 sobre alienígenas e sua relação com o vinho, destacando a história verídica de que em 1954 a prefeitura de Chateauneuf-du-Pape publicou uma lei proibindo discos voadores de pousarem nos vinhedos, fez um grande sucesso!


Escrevo (muito) sobre meio ambiente, impactos ambientais e sobre produtos mais sustentáveis, especialmente vinhos biológicos, orgânicos, biodinâmicos e naturais e vejo que a cada dia mais leitores querem se informar mais sobre esse assunto. Como gosto muito desse tema, em novembro de 2014 fui convidado a fazer uma palestra sobre vinhos mais sustentáveis em um curso sobre Microvinhas realizado pelas Universidades de Alicante e Valência, da Espanha; minha contribuição foi feita pela internet (via Skype) como a imagem abaixo mostra.

Escrevo sobre arquitetura de vinícolas, bares e lojas de vinhos interessantes ou curiosas; sobre novidades de enologia e viticultura e sobre marketing para compartilhar boas ideias entre meus leitores que produzem, distribuem ou vendem vinhos. Acho que este é um dos papeis do In Vino Viajas: compartilhar ideias e iniciativas bem sucedidas para uma comunidade de pessoas dedicadas a um ofício difícil e que vivem em um ambiente cada vez mais competitivo. Um bom exemplo é a entrevista exclusiva que fiz com o arquiteto espanhol J. Marino Pascual que continua a receber acessos todos os dias, porque seu trabalho associa cultura, talento e beleza à atividade de produção de vinhos. 

In Vino Viajas ainda não me dá retorno financeiro, mas todos os dias ganho outra coisa importantíssima: o carinho dos leitores. Nestes três anos tive a honra de merecer a atenção de muitas pessoas que, como eu, gostam de coisas bonitas, com qualidade com conteúdo e que ajudem na melhorar a tal qualidade de vida. Como o esloveno que acessou o blog para ler sobre o chef Adrian Ferrá, abaixo.
Nossos leitores estão em 121 países. Sei disso porque In Vino Viajas utiliza o software “Feedjit-Live Traffic Feed” que faz uma geo-referencia do computador que acessa a internet identificando seu IP, sua identidade geográfica. Essa identificação por IP permite que o leitor possa ver, a qualquer momento do lado direito da página home, os acessos online e comprovar que de fato somos o blog de cultura do vinho mais internacional da America Latina. E permite também que eu, como editor, saiba onde In Vino Viajas tem maior penetração geográfica. E contar para você: Portugal (com 347 IPs), França (343), Itália (314), Estados Unidos (275), Espanha (270), Alemanha (252), Suiça (82), Inglaterra (65), Argentina (54), Holanda (50), Canadá e Mexico (51), República Tcheca (47) e Austrália (35) são os países com leitores de In Vino Viajas em mais endereços de IPs, depois do Brasil. Esta universalidade pode ser vista na imagem abaixo. 



Pois é, In Vino Viajas é um contador de histórias, um story-telling, que tem conquistado o carinho de milhares de leitores, no mundo inteiro. Talvez porque eu escreva o que gostaria de ler; porque respeito o leitor e ofereço para ele não a descrição do rótulo de um vinho com maior ou menor pontuação, mas sim uma história humana que informa, educa, diverte e sensibiliza pessoas, criando pequenos momentos de alegria num dia agitado – algo assim como uma taça de vinho compartilhada com amigos. Meu prezado leitor, saúde!
(*) Rogerio Ruschel é editor de In Vino Viajas há três anos e pretende continuar sendo pelo menos pelos próximos três.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Os Vikings, Cristovão Colombo e o descobrimento da América: reescrevendo a história do Novo Mundo com a ajuda do vinho


Por Rogerio Ruschel (*)
Meu prezado leitor, vamos esclarecer duas mentiras históricas. A primeira é que não foi Cristovão Colombo quem descobriu a América em 1492, e sim, viajantes vikings, quase 500 anos antes. A segunda é que a uva não foi introduzida na América por padres como se diz (em 1769 nos Estados Unidos, em 1550 no Chile, em 1556 na Argentina, em 1546 no Brasil e assim por diante) porque num mapa viking a região onde hoje é a Groenlandia (Canadá) é chamada de Vinland!  Veja o mapa das viagens abaixo e a placa turística acima.
Pois é: como In Vino Viajas é cultura, vamos mostrar como e porque o vinho sempre esteve por trás dos navegadores e aventureiros que alargaram os horizontes da Humanidade – como por exemplo, a dura existência de Hagar, o Horrivel, o simpático personagem de Chris Browne, como mostra o desenho abaixo.

Quer outra prova, e esta mais concreta? Veja a escultura de pedra da foto abaixo que é parte de uma lápide do século III DC (ano 280) encontrada na Alemanha, e  que representa um navio que transporta barris de vinho.

Segundo as sagas vikings "Saga de Érico, o Vermelho” e a "Saga dos groenlandeses", estes povos nórdicos (noruegueses, finlandeses, suecos e dinamarqueses) iniciaram a exploração da parte do mundo que hoje é conhecida como América do Norte pelo oeste da Groenlândia. Bjarni Herjólfsson, um mercador noruegues, teria perdido o rumo e chegou lá no século XI, cerca de 500 anos antes de Cristóvão Colombo “descobrir” a América. Este território seria explorado mais tarde por Leif Eriksson que fundou, onde hoje é o Labrador, no Canadá, um assentamento chamado “Leibfundir” quer quer dizer “baía das águas-vivas” e que ficou conhecido por seu nome francês L'Anse-aux-Méduses. Veja na foto abaixo este sitio arqueológico.

Mas o que interressa é que estas sagas descrevem três áreas descobertas durante essa exploração: Helluland, a "terra de pedras planas", hoje Balin Island; Markland, o "território coberto por bosques", hoje o Labrador;  e Vinland a "terra dos vinhedos", hoje Newfoundland, que foi onde se estabeleceu o assentamento L'Anse aux Meadows - atualmente um sitio declarado Patrimônio Histórico da Humanidade pela Unesco - como comprovado em 1960 por arqueólogos dinamarqueses – veja o mapa publicado acima e a comunidade L'Anse aux Meadows reconstruída na foto abaixo.

A localização de Vinland, a terra dos vinhedos, na atualmente chamada Ilha Newfoundland, foi apresentada pelo famoso Mapa Vinland (foto abaixo), que teve datação de Carbono 14 como produzido em torno do ano 1.000 DC- e que, apenas por curiosidade, já indicava a existência do Brasil.

Assim não há dúvida de duas coisas: 1) os vikings descobriram a America do Norte muito antes dos espanhóis e 2) quando lá chegaram encontraram uvas nativas, com as quais os indígenas faziam uma bebida que teve seu nome grafado como vin, como mostra a ilustração abaixo. Quais uvas? In Vino Viajas é cultura, meu caro leitor ou leitora, mas vou ficar devendo esta resposta… 

O vinho de Cristóvão Colombo era de Huelva ou da Galícia?
O navegador e explorador italiano Cristóvão Colombo (foto abaixo) é considerado o descobridor da América por ter chegado à ilha de São Salvador e a costa dos Estados Unidos em 12 de outubro de 1492. Não me chame de fofoqueiro, mas dizem que Colombo tinha um cópia do mapa do sábio Paulo Toscanelli no qual já figuravam a China e o Japão e se demonstrava que seria possivel chegar às Indias seguindo em direção oeste, porque já se sabia que a Terra era redonda. 
 Com este mapa Colombo conseguiu o apoio de Fernando e Isabel, os Reis Católicos da Espanha, para pesquisar esta nova rota para as Indias e descobriu o Novo Mundo. Veja abaixo o mapa das rotas de Colombo. Esta é uma versão histórica mentirosa, como vimos na história dos vikings acima, mas o que interessa agora é outra coisa: qual era o vinho que Colombo levava a bordo?

Alguns pesquisadores acreditam que os navios espanhóis que partiram de Palos de la Frontera (Huelva) em 3 de Agosto de 1492 para “descobrir uma nova rota para as Índias” tinham em suas adegas um vinho cultivado nas planícies do baixo Guadalquivir, no Condado de Huelva, região de Sevilha, Espanha, terra de vinhos doces e Pedro Ximenez. Estes vinhos, então denominados “Condado de Huelva” tiveram seu momento de glória no século XIV, sendo exportados para todo o mundo conhecido até serem substituídos pelos Jerez. Na foto abaixo réplicas turísticas das caravelas no Porto de Huelva,

Outra teoria sugere que, de acordo com documentos recentemente descobertos no Arquivo Nacional de Simancas, o vinho da primeira expedição para o novo continente seria um chamado de “Ribeiro”, oriundo da Galícia. Estes documentos datam de 1500 e neles há um parágrafo que mostra que um padre que acompanhava a expedição pediu para aumentar sua ração do "bom vinho de Ribadavia", uma pequena cidade da Galícia, perto de Vigo e do norte de Portugal, região dos vinhos Alvariño. Veja abaixo uma foto de Ribadavia.
De qualquer maneira o que importa é saber que estes viajantes globais da Idade Média sonhavam com novos horizontes e eram movidos por razões econômicas e geo-estratégicas como os atuais viajantes globais, e que o vinho estava sempre com eles – especialmente vinhos mais perfumados, com mais álcool, que aguentavam mais tempo em travessias oceânicas. Brindemos a isso: tim-tim!

(*) Rogerio Ruschel é jornalista e edita In Vino Viajas em São Paulo, Brasil. Ainda não conhece a Vinland da Groenlândia, mas conhece várias outras vinlands